A operação policial realizada nesta terça-feira (28) nos Complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, exibe falhas operacionais ao colocar “publicidade eleitoreira e politicagem” acima do efetivo enfrentamento do crime organizado, afirma a professora de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jacqueline Muniz. “Faz-se a guerra para vender a paz da propina e para alimentar caixas de campanha”, diz.
A ação, batizada de “Operação Contenção“, já é a mais letal da história do Rio de Janeiro, com mais de 60 pessoas mortas até o momento e cerca de 80 presas. A operação mobilizou 2.500 policiais civis e militares com o objetivo de cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra lideranças da facção Comando Vermelho (CV), em uma tentativa de conter a expansão territorial nos dois complexos.
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Ao analisar a megaoperação, Muniz classifica o resultado como “uma lambança operacional”. Ela aponta falhas como ausência de reconhecimento do terreno, despreparo tático e falta de coordenação entre as forças. A professora argumenta que o sucesso de uma operação é medido pela ausência de mortes, e não pelo número de apreensões. “Uma operação bem-sucedida é aquela que tem baixa zero, não tem letalidade.”
A professora explica que, pela própria natureza, uma operação não tem capacidade de sustentar o controle de território e população. “Há 40 anos o Comando Vermelho apanha em operações e continua crescendo. Isso mostra que tem algo errado. O crime se fortalece e o Estado se enfraquece com a própria encenação”, avalia.
Muniz também contesta a ideia de que o combate nas favelas atinge o núcleo do crime organizado. “O dinheiro do crime não está ali. Está nas igrejas que lavam dinheiro, nas financeiras, nos bancos virtuais, nos financiadores de campanha”, afirma.
O resultado, diz a professora, é uma sucessão de tragédias. “Foi uma operação cara, onerosa, que produziu um desastre. Paralisou a cidade, deixou milhões sem policiamento e resultou em mortes que não se justificam.”
Para Muniz, a segurança do Rio de Janeiro vive uma “política de sustentação pelo espetáculo”, que alimenta um ciclo de violência e medo. Segundo ela, a dimensão visível do trabalho da polícia é a operação, enquanto as demais atividades, como patrulhamento, investigação e inteligência, não são vistas pelo público.
“As operações policiais têm um viés publicitário no aparelhamento da segurança. Elas produzem visibilidade, e é isso que rende politicamente, mesmo que sejam mal feitas. São a principal mercadoria política na instrumentalização do medo, tanto na favela, quanto no asfalto”, afirma.
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