Início Brasil Mudança em relação ao STF marca trajetória de Flávio Bolsonaro

Mudança em relação ao STF marca trajetória de Flávio Bolsonaro

Primogênito de Jair Bolsonaro e anunciado nesta sexta-feira (5) como pré-candidato da família à Presidência, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) passou a adotar uma posição mais dura em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos últimos anos, especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes, por intensificar o cerco ao pai nas investigações e processos que levaram o ex-presidente à prisão.

Se durante o governo Bolsonaro, Flávio atuou como peça-chave nos momentos de maior tensão com o STF, numa tentativa clara de apaziguamento em troca de estabilidade, nos últimos anos, ele assumiu o papel de principal escudo político do pai. Trata a condenação por tentativa de golpe como “farsa” e acusa o ministro de querer uma “vingança pessoal” contra o ex-presidente.

Flávio Bolsonaro também se tornou um dos principais defensores da tese de anistia “ampla e irrestrita” para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, argumentando que as punições aplicadas pelo STF seriam desproporcionais e políticas.

Mais recentemente, o senador tem feito apelos públicos, por vezes com tom dramático, para que Alexandre de Moraes conceda a prisão domiciliar humanitária a Jair Bolsonaro, alegando fragilidade em seu estado de saúde.

Em entrevistas, Flávio tem dito que, entre 2019 e 2022, havia optado pela conciliação, esperando que outros ministros do STF contivessem os excessos de Moraes em nome da harmonia entre Executivo e Judiciário.

No primeiro ano do governo de Bolsonaro, por exemplo, o senador atuou nos bastidores para desarticular a instalação de uma CPI da Lava Toga no Senado. Hoje, diante da condenação imposta ao ex-presidente, diz que não restou outra alternativa para a pacificação do país que não passe por um necessário freio ao STF.

Nos anos iniciais do governo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro se aproximou de alguns ministros da Corte, especialmente no período em que se avolumaram as suspeitas de que desviava parte do salário de ex-funcionários de gabinete quando era deputado estadual no Rio de Janeiro, até 2018.

Com ações no STF e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o senador acabou conseguindo se livrar das investigações e denúncias da “rachadinha”.

Na última quarta (3), ao discursar na tribuna do Senado contra a decisão de Gilmar Mendes que dificultou o impeachment de ministros, Flávio disse que as tentativas de pacificar a relação com o STF foram o “remédio errado”. “Estávamos buscando a ajuda daqueles que hoje estão mostrando que são os nossos verdadeiros algozes”, disse.

“Nós fomos acusados, o tempo inteiro, de estarmos provocando alguma instabilidade institucional, de que iríamos desgastar o Supremo. Aliás, o Bolsonaro e centenas de outros foram acusados, no papel, ao criticar alguma coisa que o Supremo tivesse feito, de que era um atentado contra a democracia”, afirmou.

“Desde lá atrás, quando se discutia impeachmentde ministro, eu dizia: ‘eu acredito numa autocontenção do Supremo’. Fui criticado por isso, criaram fake news de que eu era contra impeachmentde ministro. Como é meu perfil de tentar construir pontes, [eu dizia]: não, temos algumas etapas a vencer. Vamos acreditar na autocontenção do Supremo, vamos acreditar naqueles que estão lá há mais tempo, que são mais experientes, que não foram indicados por este governo, que eles vão conseguir fazer uma articulação e voltar, fazer com que alguns – um ministro ou dois – voltem para a casinha, como é falado aqui no cafezinho do Senado. E não aconteceu”, desafabou.

Defesa de Flávio de combate ao crime tem como ponto fraco caso da rachadinha

Atualmente, no Senado, Flávio concentra sua atuação em defesa armamentista, endurecimento penal, crítica ao ativismo judicial e combate às pautas da esquerda.

Neste ano, ele assumiu o comando da Comissão de Segurança Pública, o que o coloca no centro de três temas que devem pesar fortemente em 2026 como o crime organizado, sistema prisional e libertação de armas e autodefesa.

Natural do Rio de Janeiro, sua trajetória é marcada por um longo período como deputado estadual, sempre eleito na mesma base eleitoral do pai, formada por militares e policiais.

Apesar disso, Flávio tem como ponto fraco o caso da rachadinha. Em 2018, na Operação Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro, a Polícia Federal descobriu transações atípicas de vários deputados da Alerj que indicavam apropriação do salário de funcionários de gabinete. Um dos investigados era Flávio.

Relatórios do antigo Coaf detectaram movimentações suspeitas de cerca de R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017 de Fabrício Queiroz, ex-chefe de gabinete de Flávio.

Quando assumiu o mandato de senador, em 2019, Flávio tentou levar o caso para o STF ou ao menos retirá-lo da primeira instância da Justiça do Rio – acusava os promotores do caso de perseguição política, com objetivo de atingir o governo de Jair Bolsonaro.

O Ministério Público do Rio denunciou Flávio por organização criminosa e lavagem de dinheiro, citando o uso de operadores, fracionamento de depósitos, além de compra e venda de imóveis para ocultação de recursos.

Em 2019, o ministro Gilmar Mendes, do STF, decidiu suspender as investigações contra Flávio com base no entendimento de foro privilegiado. O mérito das acusações não chegou a ser analisado pela Justiça. Neste ano, Gilmar rejeitou tentativas do Ministério Público do Rio de reabrir o caso. Considerou que os recursos não apresentavam base constitucional para revisão, mantendo arquivado o processo.

A trajetória marcada pelo caso das rachadinhas forçou Flávio a aprender, cedo, a operar no campo da autodefesa política e jurídica, moldando um senador mais cauteloso, técnico no discurso e focado na sobrevivência institucional.

  • Michelle apoia pré-candidatura de Flávio para presidente em 2026

  • Direita reage após Bolsonaro indicar Flávio à disputa pela presidência

Para analistas, Flávio tenta preservar capital político da família Bolsonaro

A escolha de Flávio por Bolsonaro como herdeiro político não é apenas afetiva, é estratégica, segundo especialistas. Entre os filhos, ele é o que reúne hoje mandato, estrutura partidária, trânsito institucional e um estilo menos explosivo, capaz de dialogar com o centro, setores da elite política e até com parte do Judiciário — ativos hoje ausentes em outros nomes da família Bolsonaro.

Para o analista político Alexandre Bandeira, a decisão de Jair Bolsonaro reforça o “desejo de manutenção mais direta da família Bolsonaro no comando da política nacional”. “Flávio já vinha atuando como porta-voz do ex-presidente desde a sua prisão na Polícia Federal”, avalia.

Na leitura de Bandeira, o primeiro efeito prático da escolha será uma divisão formal da direita. De um lado, os “bolsonaristas raiz”, que defendem a permanência direta do sobrenome no centro do poder. Do outro, alas que já vinham tentando construir um projeto conservador sem a dependência política da família Bolsonaro.

“Esse movimento tende a rachar a direita entre os que defendem o bolsonarismo puro e os que querem um novo arranjo de poder sem a presença nominal do sobrenome Bolsonaro”, afirma.

Do ponto de vista eleitoral, Bandeira cita pesquisas eleitorais com foco na corrida presidencial. “De todos os cenários já testados em pesquisas até agora, Flávio é o candidato mais fraco num embate direto com Lula. Ele vai precisar ganhar musculatura política e convencer esses dissidentes de que é a alternativa mais correta dentro da direita brasileira”, explica.

Para o cientista político Elias Tavares, a escolha de Flávio Bolsonaro encerra as especulações em torno de outros nomes e sela uma decisão clara do ex-presidente: “manter o bolsonarismo em sua forma mais pura na disputa de 2026”.

“Enquanto havia muita especulação sobre Michelle ou outros nomes, a escolha do Flávio significa colocar uma candidatura 100% bolsonarista na disputa. Sem mediações, sem símbolos alternativos”, afirma.

Tavares reforça que Bolsonaro não quis abrir mão de indicar um filho, o que demonstra um “movimento claro de preservação do capital político da família”.

Sobre a disputa em 2026, ele pondera que tudo dependerá do primeiro grande teste: as pesquisas. “Se um cenário Flávio versus Lula mostrar vantagem folgada da esquerda, isso facilita a vida do Lula. Se, ao contrário, Flávio conseguir unificar bolsonaristas e conservadores moderados, a disputa se torna muito mais quente. Resta saber se Flávio tem musculatura eleitoral para sustentar essa aposta”, diz.

  • Opine: Flávio Bolsonaro é a melhor escolha para disputar a presidência em 2026?

@jornaldemeriti – Aqui você fica por dentro de tudo.
Fala com a gente no WhatsApp: (21) 97914-2431

Sair da versão mobile