Os títulos em dólar da Argentina registraram algumas das piores perdas nos mercados emergentes na quinta-feira, colocando-os no caminho para a mais longa queda semanal desde abril, à medida que a pressão sobre o governo do presidente Javier Milei continua a aumentar.
Os investidores esperavam que as eleições de meio de mandato no próximo mês aumentassem o apoio a Milei no Congresso o suficiente para impulsionar sua agenda de reformas econômicas. Mas com seus índices de desaprovação em ascensão, a economia em contração e uma série de reveses políticos — de escândalos de corrupção à resistência de parlamentares — os investidores começaram a se livrar dos ativos do país.
Os títulos ampliaram suas perdas na quinta-feira, depois que os parlamentares rejeitaram dois vetos de Milei a projetos de lei que aumentariam os gastos, levantando preocupações sobre sua capacidade de angariar apoio político antes da votação de 26 de outubro. As notas com vencimento em 2035 — algumas das mais líquidas — caíram mais de 3 centavos de dólar, atingindo o menor valor em quase um ano, após cinco semanas consecutivas de perdas. Os rendimentos da dívida ultrapassaram 16,9%, ante 10,6% no mês anterior.
A liquidação também está afetando a moeda, forçando o banco central a intervir para sustentar o peso pela primeira vez desde que as bandas cambiais foram estabelecidas em abril. A autoridade monetária vendeu US$ 53 milhões, de acordo com seu relatório diário sobre reservas cambiais. O peso oficial era negociado a 1.474 por dólar às 11h50, horário local, logo abaixo do limite superior.
“O banco central nunca terá problemas em responder quando o limite superior da banda for atingido”, disse o porta-voz do Milei, Manuel Adorni, a jornalistas em entrevista coletiva nesta quinta-feira.
O principal índice de ações do país, o Merval, caía cerca de 5% nesta tarde.
As faixas de negociação estabelecidas pelas autoridades argentinas em um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril aumentam gradualmente 1% ao mês em ambas as direções, divididas igualmente em incrementos diários. O limite superior do peso para quinta-feira é 1.474,83, mas o sistema oficial de negociação do país só permite lances em incrementos de 50 centavos, portanto, para fins práticos, o banco central arredonda o número.
Mesmo antes da intervenção de quarta-feira, a Argentina vinha utilizando outros instrumentos — como a venda de dólares pelo Tesouro ou contratos futuros de câmbio — para estabilizar o peso. O governo também restringiu a demanda por dólar por parte das corretoras, com o regulador de valores mobiliários reinterpretando uma regra existente que as impede de acumular posições em dólar.
O “duplo golpe da pressão cambial e do retrocesso legislativo” aumenta a incerteza em torno do governo e eleva “os riscos de um grande vazamento de reservas para manter a atual estrutura cambial ou de um abandono prematuro e desordenado dela”, disse Juan Sola, analista do Banctrust & Co., em um relatório a investidores.
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