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Tom cordial de Trump com Lula não significa fim das tarifas

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Após cerca de 45 minutos de conversa entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e declarações amistosas de ambos os lados, as negociações acerca das tarifas alfandegárias sobre produtos brasileiros ainda devem percorrer um caminho até que se chegue a um acordo de fato. Isso significa que as tarifas de 50% aplicadas desde o início de agosto pelos EUA ao Brasil seguem em vigor, sem previsão de serem revogadas.

Diferentemente de outros países – como Camboja, Tailândia e a própria Malásia – que fecharam acordos comerciais com Trump em Kuala Lumpur neste domingo (26), o Brasil não alcançou um resultado concreto, apesar do tom cordial do mandatário dos EUA e da promessa de novas conversas entre as equipes técnicas dos governos americano e brasileiro, a primeira delas inclusive aguardada ainda para o domingo.

“Trump declarou que dará instruções à sua equipe para começar um processo de negociação bilateral, que deve se iniciar hoje [domingo] ainda – já que é para tudo ser resolvido em pouco tempo”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, que participou do encontro entre Lula e Trump na Malásia, durante a cúpula de Líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).

Declarações amistosas de Trump

Antes da conversa a portas fechadas, Lula e Trump conversaram com a imprensa brasileira e americana. O presidente dos EUA declarou que as tarifas impostas ao Brasil podem ser negociadas “muito rapidamente”, sem porém revelar os termos que poderiam levar a esse desfecho. “Acho que poderemos chegar a acordos muito bons dos quais estivemos falando, e acho que acabaremos tendo uma relação muito boa”, disse.

Questionado por um repórter se abordaria a condenação do ex-presidente brasileiro Jair Messias Bolsonaro na conversa, Trump retrucou que “não é da sua conta”. Preocupado com a extensão da pauta a ser debatida em pouco tempo na reunião, Lula pediu que a coletiva fosse encerrada.

O governo americano não divulgou detalhes sobre a conversa e Trump também não se manifestou sobre o assunto em suas redes sociais. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, foi quem contou aos jornalistas alguns trechos da reunião. Segundo ele, na conversa, que foi “muito descontraída, alegre até”, Trump teria dito que admira a carreira de Lula e que pretende visitar o Brasil.

“Os presidentes trataram de todos os assuntos. O presidente Lula começou dizendo que não havia assunto proibido e renovou o pedido brasileiro de suspensão das tarifas impostas à exportação brasileira durante o período de negociação, da mesma forma que o recurso à Lei Magnitsky, e disse que estava disposto a conversar. O saldo final é ótimo”, garantiu.

Casa Branca não se manifestou

Neste domingo, a Casa Branca divulgou uma série de declarações conjuntas sobre acordos recíprocos de comércio fechados pelos Estados Unidos na viagem de Trump a Kuala Lumpur, envolvendo tarifas aplicadas ao Camboja, Tailândia e à anfitriã Malásia. Sobre o encontro com Lula, porém, não houve comunicado.

O governo americano também divulgou que a agenda pública de Trump para o dia já foi concluída.

Negociações seguem

De acordo com participantes brasileiros da reunião, o principal argumento de Lula para a revogação do tarifaço contra o Brasil foi a ausência de superávit nos Estados Unidos e a ótima relação diplomática histórica entre os países. Segundo Mauro Vieira, uma nova reunião entre representantes dos governos deve ocorrer na noite deste domingo na Malásia, mas local e horário não foram definidos.

“Tive uma ótima reunião com o presidente Trump na tarde deste domingo, na Malásia. Discutimos de forma franca e construtiva a agenda comercial e econômica bilateral. Acertamos que nossas equipes vão se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as sanções contra as autoridades brasileiras”, declarou Lula, no X, após o encontro.

Apesar de antes da reunião Trump ter se dito “incomodado” com as penas contra Bolsonaro – que foram usadas como justificativa para a imposição de tarifas ao Brasil -, o tema não entrou na pauta da reunião, segundo o governo brasileiro. 

Resolução em semanas?

Apesar da expectativa brasileira de resolver a questão em “semanas”, como declarou Mauro Vieira a jornalistas, o diálogo de outros importantes parceiros comerciais dos EUA sobre o tema se arrastam há meses. É o caso do Canadá, cujas longas negociações em curso foram encerradas por Trump neste fim de semana, após a veiculação de uma publicidade por Ontário que continha uma fala “seletiva” do ex-presidente Ronald Reagan criticando tarifas. Como resposta, Trump aplicou uma taxa adicional de 10% sobre seu vizinho, que já amargava tarifas de 35% sobre alguns produtos.

Outro fator dificultador de um acordo com o Brasil deve ser a figura do secretário de Estado Marco Rubio, designado por Trump no começo do mês para conduzir as futuras negociações bilaterais com o país. Analistas internacionais defendem que a escolha de Rubio como negociador – um crítico de Lula e de ditaduras latino-americanas – é “o caminho mais duro possível para o Brasil”, ou seja, o governo brasileiro deve lidar com um representante difícil, que deverá fazer solicitações exigentes.

“Diplomacia chamativa” x tratamento duro

A guerra comercial de Trump também tem tido longos capítulos de negociações com a China. Após uma trégua na escalada de tensões e várias rodadas de reuniões entre equipes dos dois países, na semana passada Trump voltou a ameaçar o gigante asiático com tarifas de 155% a partir de 1º de novembro, caso não consigam chegar a um acordo.

Ao jornal americano New York Times, o principal negociador comercial da China, Li Chenggang, disse que os dois lados chegaram a um consenso preliminar sobre uma série de questões, durante reuniões bilaterais na Malásia.

Apesar da tentativa de Trump de apresentar um rosto “amigável a uma parte do mundo que foi abalada por suas tarifas agressivas” nesta viagem ao sudeste asiático e da “diplomacia chamativa”, o Times analisou que, ao que parece, “na maior parte a substância da abordagem de seu governo para seus aliados no Indo-Pacífico não sofreu mudanças”.

Nas negociações alcançadas com Tailândia, Camboja e Malásia neste fim de semana, por exemplo, os países mantiveram a tarifa de 19% imposta por Trump no início de seu mandato. Os acordos contêm, no entanto, compromissos dos três países de ajudar os Estados Unidos a conter a China, da qual muitos países do sudeste asiático dependem.

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