O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem tentado nas últimas semanas solucionar uma complexa questão que desafia a sua provável caminhada rumo ao Palácio do Planalto. Como equilibrar discurso e prática voltados à conquista do eleitor fiel a Jair Bolsonaro (PL) sem perder a capacidade de alcançar amplo público do centro que se diz avesso a posicionamentos mais ideológicos de direita?
Para viabilizar a candidatura presidencial em 2026, Tarcísio tem o apoio dos principais caciques partidários do país: Gilberto Kassab (PSD), Ciro Nogueira (PP) e Marcos Pereira (Republicanos). Eles entendem que o governador precisa obter o apoio explícito de Bolsonaro, líder maior da direita, mas com personalidade própria, sendo opção pacificadora e um gestor competente.
Elton Gomes, professor de Ciência Política da UFPI, vê a ambiguidade de Tarcísio como parte da estratégia presidencial: herdeiro de Bolsonaro, mas moderado capaz de dialogar com o centro e até com o Supremo Tribunal Federal (STF). “A postura pendular lhe garante o capital eleitoral do ex-presidente e a confiança das elites políticas e econômicas do país”, afirma.
Pesquisas apontam Tarcísio como o rival mais viável contra Lula nas urnas em 2026
A pesquisa mais recente sobre a corrida presidencial de 2026, a do Instituto Quaest, divulgada nesta quinta-feira (18), aponta Tarcísio como o adversário mais competitivo da direita contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno. Lula segue à frente em todos os cenários testados. Contra o governador, ele teria 43% das intenções de voto, ante 35% do rival.
O levantamento Genial/Quaest indica ainda que a maioria do eleitorado defende que Bolsonaro desista da candidatura e apoie um outro nome da direita. A pesquisa ouviu 2.004 pessoas entre os dias 12 e 14 de setembro, em entrevistas presenciais realizadas em todas as regiões do país. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Adriano Gianturco, professor de Ciência Política do Ibmec-BH, opina que a estratégia de Tarcísio de se aproximar do centro segue uma lógica relacionada a disputas polarizadas, apostando que “candidatos tendem a buscar o eleitor mediano, ainda que desagradem aos mais radicais. É assim que moderados vencem”, diz. Assim, o governador pode se oferecer também como “a opção menos pior”.
Tarcísio nega candidatura após se engajar pela anistia e virar novo alvo do STF
Tarcísio negou nesta quarta-feira (17) que queira disputar a Presidência. Em Araçatuba (SP), afirmou que sua prioridade é seguir governando o estado de São Paulo. “Pretendo concorrer à reeleição”, disse. Embora tenha refutado em outras ocasiões a candidatura presidencial, a nova negativa veio após ele sofrer ataques da esquerda por se engajar pela anistia aos réus do 8 de Janeiro.
A fala também foi a primeira sobre o tema após a condenação na semana passada de Bolsonaro pelo STF, que lhe impôs pena de 27 anos de prisão por liderar uma suposta trama golpista. A declaração de Tarcísio ocorre também após o STF sinalizar a sua inclusão em inquéritos que ameaçam conservadores, justamente devido à sua recente liderança na mobilização pela anistia.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, pediu para a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestar sobre pedido do deputado Rui Falcão (PT-SP) de abertura de investigação contra o governador pelo suposto crime de obstrução de Justiça por ter ido a Brasília, semana passada, durante o julgamento de Bolsonaro, para articular a votação da anistia no Congresso.
Tarcísio faz escolha ousada de criticar o STF para se firmar como opção da direita
Para equilibrar a imagem de direita com perfil moderado, Tarcísio subiu o tom das críticas ao Judiciário sem desviar o foco em reformas econômicas que fez os mercados enxergarem nele a retomada da disciplina fiscal e dos investimentos. Ao mesmo tempo, a esquerda o rotula de radical de direita. Já aliados conservadores cobram enfrentamento ainda mais duro contra o STF.
O ponto de virada veio no ato de 7 de Setembro na Avenida Paulista, quando usou termos como “ditadura da toga” e “tirania” para defender a anistia. A postura marcou o abandono da moderação que o fez interlocutor com o STF. A Corte agora pode lhe impor obstáculos. A guinada destoa do lançamento do túnel Santos-Guarujá, em fevereiro, do qual participou ao lado de Lula.
No ato da Avenida Paulista, Tarcísio contestou provas contra Bolsonaro, chamou de “mentirosa” a delação de Mauro Cid e pediu urgência na votação da anistia. O gesto animou a militância conservadora, mas elevou o risco de ele entrar de vez na mira do STF, que já tem sido acionado por políticos e servidores públicos para barrar as suas iniciativas como governador.
Caciques partidários revelam apoio e entusiasmo com a candidatura de Tarcísio
A candidatura presidencial de Tarcísio passou a ser tratada de forma aberta por dirigentes de partidos da direita e da centro-direita nos últimos meses, sempre com o pano de fundo da possibilidade de unir forças em 2026 para enfrentar Lula. O movimento ganhou corpo em agosto, quando Marcos Pereira, do Republicanos, admitiu essa chance diante do governador.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, mantém a fala pró-candidatura de Bolsonaro, mas abriu a porta para uma solução em torno de Tarcísio. Em entrevista na semana passada, ele disse que o candidato será decidido pelo ex-presidente e que, se for Tarcísio, o governador de São Paulo deve se filiar ao PL. Dias depois Costa Neto, admitiu ser preciso vencer a resistência do deputado Eduardo Bolsonaro (SP).
No PSD, o presidente Gilberto Kassab enaltece Tarcísio como “candidato único da centro-direita”, acrescentando que o governador só desistiria de seguir no Palácio dos Bandeirantes “se estivesse muito confiante na vitória” para o Palácio do Planalto. A federação União Progressista (União Brasil e PP) já até acena com o presidente do PP, Ciro Nogueira, como vice na chapa.
Governistas e esquerda reagem contra suposta guinada de Tarcísio à direita
O empenho de Tarcísio pela anistia dos réus do 8 de Janeiro e suas falas contra Alexandre de Moraes — a quem chamou de “tirano” e “ditador” — provocaram reações duras de governistas e líderes da esquerda. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), disse no começo de setembro que “caiu a máscara” do governador, agora tachado de “militante antidemocrático”.
O professor de estatística da Unicamp e analista político Paulo Guimarães avalia ser impossível um candidato apoiado por Bolsonaro fugir da repulsa de parte do eleitorado ao ex-presidente. Ele lembra que pesquisas mostram grande rejeição tanto a Lula quanto Bolsonaro. Mas o presidente larga como favorito, pois já venceu em 2022 o rival, que dispunha da máquina federal.
“Tarcísio se encontra, pois, numa encruzilhada. Ele tentou se afastar dos polos opostos, mas sofreu ataques duros dos filhos de Bolsonaro. Para não perder a base da direita, o governador buscou então se reaproximar dela. Mesmo que opte pela reeleição, dependerá do apoio do ex-presidente”, diz.
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