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Setor industrial da Rússia sente efeitos da guerra e entra em crise

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O setor industrial da Rússia começou a sentir de forma aguda o peso da invasão da Ucrânia, ordenada pelo ditador Vladimir Putin, e enfrenta agora uma desaceleração que atinge desde as ferrovias até as indústrias de cimento, automóveis, carvão e aço.

De acordo com reportagem da agência Reuters, publicada nesta quinta-feira (9), algumas das maiores indústrias do país reduziram recentemente jornadas de trabalho, interromperam operações e cortaram salários diante da queda na demanda doméstica e do colapso nas exportações.

De acordo com a publicação, empresas como a fabricante de caminhões Kamaz, a montadora GAZ e a estatal Russian Railways passaram a adotar semanas de quatro dias para evitar demissões em massa. A Cemros, maior produtora de cimento da Rússia, também reduziu a carga horária de seus 13 mil funcionários.

“Esta é uma medida anticrise necessária. O objetivo é manter toda a equipe”, afirmou o porta-voz da empresa, Sergei Koshkin.

O encolhimento dos setores civis reflete o desequilíbrio causado pela economia de guerra e pelas sanções impostas pelo Ocidente. Um estudo do Center for Macroeconomic Analysis and Short-term Forecasting, citado pela Reuters, mostra que os setores não ligados ao aparato militar já encolheram 5,4% desde o início deste ano, e o crescimento do PIB russo deve cair para apenas 1% neste ano.

Enquanto isso, o Kremlin continua a direcionar recursos ao complexo militar. De acordo com o jornal independente Novaya Gazeta Europe, o novo orçamento russo destina 38% de todos os gastos federais para defesa e segurança – o maior percentual desde o fim da União Soviética. O economista Vadim Baranov afirmou ao veículo que o chamado “orçamento de guerra” tem o objetivo de mostrar que “a Rússia não mudou suas prioridades internas nem externas”.

A decisão, no entanto, está corroendo as bases civis da economia. Segundo o economista Alexander Kuzmin, ouvido pelo Novaya Gazeta, o país enfrenta um “paradoxo”: reduzir o gasto militar provocaria uma recessão – já que toda a economia russa passou a depender diretamente destes investimentos, mas mantê-lo significa aprofundar o colapso dos setores civis.

“Será difícil sair disso e não está claro como administrar”, disse.

Para a economista Elina Rybakova, do think tank Peterson Institute for International Economics, a dependência crescente do setor militar cria uma bolha semelhante à que antecedeu a crise financeira global de 2008. “O complexo militar está consumindo os recursos e a mão de obra que deveriam sustentar as indústrias civis”, afirmou. Caso os gastos de guerra sejam reduzidos, a Rússia poderá enfrentar uma recessão “com queda da produção, aumento do desemprego e cortes salariais generalizados”.

A Novaya Gazeta também apontou que o aumento dos juros na Rússia para conter a inflação – hoje em 17% – está encarecendo o crédito para todos os setores, exceto o militar, que recebe subsídios e empréstimos a taxas reduzidas.

As estatísticas oficiais confirmam o agravamento da situação. A Reuters informou que as dívidas salariais atrasadas triplicaram em um ano, e o fechamento de fábricas se espalha por regiões dependentes da indústria pesada, como os Urais e a Sibéria. Na bacia carbonífera de Kuzbass, 18 das 151 mineradoras já encerraram atividades, e cerca de 19 mil mineiros perderam o emprego.

Mesmo assim, o Kremlin mantém o discurso de otimismo. Putin rejeita os alertas de banqueiros sobre o risco de estagnação e insiste que a desaceleração é parte de um “controle da inflação”, prevista em 6,8% para o ano. Porém, economistas russos e ocidentais ouvidos pelos dois veículos concordam que o modelo econômico baseado na guerra está próximo do limite.

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