O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) reagiu nesta quinta-feira (16) ao alerta feito pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, sobre a situação “extremamente perigosa” no controle do sistema elétrico brasileiro.
Feitosa afirmou que o sistema enfrenta um “problema de rampa”, caracterizado por elevadas variações de potência que o Operador Nacional do Sistema (ONS) é obrigado a gerenciar em curtos períodos.
O problema é causado pela rápida expansão de fontes renováveis intermitentes (eólicas e solares) e a estagnação da capacidade de armazenamento do sistema. A partir das 16h, a energia solar começa a sair do sistema elétrico, gerando um aumento da geração térmica e hidrelétrica para suprir o consumo durante o horário de pico.
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O diretor destacou que, se não houver intervenção regulatória e planejamento adequado, o ONS deverá passar dos atuais 40 GW (Gigawatts) de rampa para 53 GW em 2028. Para Feitosa, o perigo é causado pela alta instabilidade que pode levar o sistema a colapsar.
“Sem cerveja, sem picanha e sem luz!”, disse Flávio Bolsonaro em referência a promessa repetida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a campanha de 2022 de que os brasileiros teriam acesso a picanha e cerveja.
O diretor da Aneel fez o alerta durante a audiência pública desta quinta-feira (16) sobre a Medida Provisória 1.304/2025, que limita o repasse dos custos do setor elétrico ao consumidor.
“Imagine nesse momento de rampa se nós tivermos um incidente, que é perfeitamente possível de ocorrer, uma danificação de um equipamento importante, uma descoordenação de proteção. Simplesmente o sistema vai a pique”, disse Feitosa.
A rampa atual de 40 GW é equivalente ao pico de demanda de um país inteiro, como a Espanha. Já a rampa projetada de 53 GW equivale à demanda combinada da Espanha e de dois países como Portugal, cujo pico de demanda é de 8 GW.
Além disso, Feitosa afirmou que as tarifas devem continuar a aumentar em razão do atual nível de encargos do setor. “Temos tarifas de energia elétrica cada vez maiores e elas não vão parar de crescer fortemente em função dos subsídios que estão incluídos na conta de luz”, disse.
Sistema elétrico precisa de renovação e armazenamento de energia é visto “coringa”
A preocupação com a rampa é compartilhada por outros especialistas do setor, que apontam para o esgotamento dos recursos de flexibilidade e potência. Historicamente, o sistema era hidrotérmico, onde a energia contratada das hidrelétricas trazia consigo um pacote completo de atributos, como potência, flexibilidade e resposta rápida.
Contudo, a expansão recente, embora saudável, foi de fontes que entregam energia a valor competitivo, mas sem os atributos de flexibilidade e serviços ancilares, que garantem a estabilidade do sistema elétrico. Essa mudança levou o sistema a ficar “muito deficitário em capacidade flexibilidade e serviços ancilares”.
A presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), Marisete Pereira, reforçou que a amplitude diária dessa variação de potência, fenômeno ligado à chamada “Curva do Pato”, já chega a 45 GW e o plano de operação do ONS projeta que essa amplitude diária será de mais de 50 GB até 2029.
Essa rampa crítica exige que as hidrelétricas sejam acionadas de maneira instantânea no período de pico (entre 14h e 22h) para produzirem cerca de 45 GW médios e atenderem 80% do consumo.
Feitosa destacou que o sistema elétrico atual, que é “completamente diferente” do modelo hidrotérmico anterior, requer marcos legais aprimorados e renovados. A função de armazenamento, que antes era suprida pelo crescimento da capacidade hídrica, hoje precisa ser endereçada por outras soluções.
O armazenamento de energia é visto como um recurso “coringa” que pode atuar como carga na hora do vale (absorvendo excesso) e como fonte na hora da ponta (preenchendo a rampa).
Feitosa garantiu que, apesar das limitações infralegais da agência para a criação de um novo agente armazenador ou definição de tarifas específicas, a Aneel já está preparada para licitar baterias e receber pedidos de outorga.
A Agência sinalizou ao Ministério de Minas e Energia e ao ONS que, se o planejamento identificar a necessidade de licitação de baterias, o regulador tem as condições necessárias para avançar com essa agenda.
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