“Este é um dia histórico. Não é apenas o fim de uma guerra, este é o fim da era do terror e da morte”, declarou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante seu discurso no Parlamento israelense nesta segunda-feira (13), marcando o retorno dos últimos 20 sobreviventes do cativeiro em Gaza.
Apesar das negociações da equipe de Trump com Israel, Hamas e países árabes terem aberto portas aparentemente intransponíveis, o tão aguardado acordo de paz para encerrar o atual conflito no Oriente Médio ainda está distante de ser uma realidade.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o economista Igor Lucena, doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa e CEO da Amero Consulting, pontuou que, na prática, o que temos até o momento é um cessar-fogo com possibilidade de se transformar em um acordo de paz genuíno.
A mediação da equipe de Trump resultou em um avanço significativo nas negociações entre Israel e Hamas, que estavam travadas há meses – anteriormente, as partes haviam consentido numa trégua entre janeiro e março que garantiu a libertação de 25 reféns israelenses vivos e a entrega de restos mortais de outros oito, mas depois os combates foram retomados.
Contudo, pontos mais sensíveis do projeto de paz de Trump, como a formação de um governo provisório para Gaza, a reconstrução do enclave e o desarmamento do grupo terrorista palestino, ainda carecem de concordância entre os lados.
Desde a sexta-feira, o Exército de Israel interrompeu suas operações no enclave palestino, seguindo as instruções estabelecidas no acordo.
No entanto, nesta segunda-feira, o país denunciou uma possível violação do Hamas, ao entregar somente quatro dos 28 corpos de reféns aguardados pelas famílias em Israel.
O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já sinalizou que pode reagir se entender que o grupo terrorista está atrasando propositalmente a devolução das vítimas.
Antes de Trump discursar no Parlamento nesta segunda, Netanyahu declarou que, se o republicano seguir comprometido com essa paz, ele também manterá sua palavra.
Contudo, declarações do premiê no dia anterior sinalizaram que a guerra não acabou. Netanyahu afirmou que Israel continua enfrentando “grandes desafios” em termos de segurança e que os “inimigos” do país tentam se recuperar para atacá-lo novamente.
O mandatário israelense também recusou convite para participar da Cúpula pela Paz em Gaza, em Sharm el-Sheikh, no Egito, que contou com participação de Trump e diversos líderes de países da região e da Europa.
Segundo informou seu gabinete em um comunicado, ele não participou do evento devido à proximidade do início do feriado de Simchat Torá, o último dia do período festivo judaico de Sucot.
Para Lucena, o fim de fato da guerra dependerá de uma série de ações lideradas pelos Estados Unidos na região, especialmente junto a países árabes, visto que o governo Donald Trump é o único atualmente que consegue dialogar com os dois lados desse conflito.
“Isso será possível se os Estados Unidos tiverem a capacidade de articular com o mundo árabe a volta dos Acordos de Abraão [tratados mediados pelos EUA para normalizar relações entre o mundo árabe e Israel], e ao mesmo tempo a gente precisa assistir a Israel reconhecendo um Estado palestino, sem a participação do Hamas, com uma coalizão internacional militar liderada pelo mundo árabe, Arábia Saudita, Catar, garantindo a segurança do enclave e com apoio dos Estados Unidos”, analisou.
Segundo análise da CNN, muitos líderes regionais querem sinais firmes de que o processo em andamento resultará em um eventual Estado palestino, como defendem – incluindo o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, o governante de fato do estado mais poderoso do Golfo, com quem Trump possui uma relação próxima.
Lucena pontuou que, nesta fase, o governo Trump deve priorizar a coordenação e manutenção desse acordo de paz, levando o processo até sua conclusão. “Se essa coordenação não avançar, se a normalização das relações entre o mundo árabe e Israel não se tornar viável, infelizmente veremos no futuro novos embates [na região]”, alertou.
Aaron David Miller, ex-negociador americano para o Oriente Médio e membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace, afirmou ao The Wall Street Journal (WSJ) que Trump precisa “estar preparado para levar isso [sua iniciativa pela paz no Oriente Médio] até o fim”.
“Se ele não fizer isso, o acordo vai se perder e o cenário acabará retornando a uma Gaza que se parece mais com 6 de outubro [de 2023, véspera dos atentados que desencadearam a guerra], esteja o Hamas envolvido ou não”, avaliou Miller.
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