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Redução de metano é caminho mais curto contra aquecimento global | Emergência climática

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Agropecuária, lixões, mudanças no uso da terra e florestas e combustíveis fósseis reúnem um elemento em comum: são os quatro maiores emissores de metano (CH4) no Brasil, um gás com potencial de aumentar a temperatura do planeta numa proporção 84 vezes superior à do dióxido de carbono (CO2), segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em um período de 20 anos.

Reduzir as emissões de metano é parte essencial da agenda climática para frear o aquecimento global, não apenas pelo seu efeito destruidor sobre a camada de ozônio, mas também porque seu tempo de vida na atmosfera é relativamente curto, entre 9 e 12 anos, enquanto o CO2 leva mais de um século para desaparecer. Logo, diminuir o volume de partículas de CH4 no ar é considerada a opção de curto prazo mais adequada para conter o ritmo do aquecimento da Terra. Aliás, já passou o tempo de acioná-la, segundo relatório de outubro da Organização das Nações Unidas (ONU).

A meta do Compromisso Global de Metano, assinada por mais de 150 países em 2021, incluindo o Brasil, é a de cortar em 30% as emissões do gás fóssil até 2030 em relação aos níveis de 2020, medida vista como freio de emergência na mudança climática que daria ao mundo mais tempo para a transição energética. Mas o que se tem visto até aqui mostra outro cenário. Segundo o documento da ONU, vazamentos de metano do setor de petróleo e gás levaram o Methane Alert and Response System” (Mars), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a emitir 3,5 mil alertas para 33 países, mas quase 90% deles não tiveram respostas de governos ou empresas.

O Mars, segundo Florencia Carreras, gerente regional para América Latina e Caribe do Observatório Internacional de Emissões de Metano do Pnuma, combina imagens de satélite e inteligência artificial para detectar emissões anormais de metano.

Carreras disse que as amostras obtidas por satélites das emissões globais de metano permitem calcular que o volume real é cerca de 80% superior ao anunciado voluntariamente pelos países. Isso ocorre, segundo ela, porque os relatórios são elaborados com base em estimativas das empresas e não em métricas adequadas de mensuração. Ela fez as observações no seminário “Freio de Emergência Climática”, organizado pelo Global Methane Hub e Uma Gota no Oceano, com apoio da Editora Globo, Observatório do Clima e IDG no dia 16 de outubro, no Museu do Amanhã, no Rio.

Corte de 30% nas emissões do gás até 2030 é visto como freio de emergência na mudança climática

O metano é responsável por cerca de 45% do aumento da temperatura do planeta, mas o mundo tem instrumentos para mudar esse cenário. Maas Goote, negociador-chefe da União Europeia nas negociações climáticas da ONU e fundador da Carraway Strategies, que também participou do evento, foi enfático: “Atualmente, 70% do metano jogado na atmosfera pode ser cortado utilizando tecnologias já existentes, como a que detecta, repara e impede vazamentos e a de controle de liberação do metano”, disse, referindo-se às emissões do setor de petróleo, gás e carvão.

O sinal de alerta dado pela ONU chega às vésperas da COP30, que começa em 10 de novembro em Belém. A questão está entre as prioridades da agenda do Brasil, segundo Ana Toni, diretora-executiva da COP30. “Colocar o olhar, o foco e a prioridade no tema do metano será um dos grandes ganhos da COP.”, disse. A urgência tem respaldo nos números. O Brasil, quinto maior emissor global de metano, atrás de China, Estados Unidos, Índia e Rússia, respondeu por 21,1 milhões de toneladas de CH4 jogados na atmosfera em 2023 (6% mais que em 2020). Mas o país quer deixar essa posição no passado.

Para tanto, o ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) está concluindo vários projetos voltados para redução das emissões do gás. Três, segundo Adalberto Maluf, secretário nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental do MMA, serão financiados pela Coalização Clima e Ar Limpo da ONU. São eles: o Plano Nacional de Poluentes Climáticos de Vida Curta, Plano de Redução de Metano dos Resíduos Agrícolas e Orgânicos e o Plano de Redução de Intensidade de Carbono e de Metano do setor Agropecuário, coordenado pelo Ministério da Agricultura.

“Com esses três programas estamos focados em reduzir as emissões de metano na agropecuária e nos resíduos sólidos. Quanto ao petróleo e gás estamos aguardando a Agência Nacional de Petróleo (ANP), que abriu consulta pública para regulamentar emissões”, disse.

A agropecuária responde por 75,6% das emissões brasileiras de CH4, a maior parte proveniente da pecuária. As 15,7 milhões de toneladas de metano emitidas pelo rebanho bovino do país em 2023, segundo maior do mundo, superaram as de todos os gases de efeito estufa gerados na Itália no mesmo ano, segundo o Observatório do Clima.

Para reduzir esse volume, Sidney Medeiros, auditor fiscal federal do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), defendeu medidas que levem a mais eficiência na pecuária. “Apoiamos ações para que as emissões a cada quilo de carne e a cada litro de leite produzidos sejam cada vez menores, mas as iniciativas caberão aos produtores rurais”, disse.

Renata Potenza, especialista em políticas climáticas e metodologias de carbono agropecuário no Imaflora, afirmou que metas serão atingidas se houver mais ambição nas ações de políticas públicas. “É possível reduzir as emissões do setor em 28%, mas não com as atuais medidas. É preciso mais fomento. Precisamos aumentar nossa ambição. Precisamos fazer com que o Plano ABC e o Plano Clima tenham escala”, disse.

Outra frente de atuação é a substituição de combustíveis fósseis por opções limpas e renováveis, como o biometano e biogás. Segundo a Agência Internacional de Energia, os combustíveis fósseis respondem por quase um terço das emissões de metano no mundo, mas reduzir esse volume é factível e viável. “O governo brasileiro entende a importância da agenda nesses três setores”, conclui Henrique Bezerra, líder regional do Global Methane Hub.

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