Quando a tecnologia e a produção industriais são locais, ocorre um adensamento da cadeia produtiva interna. Isso gera investimentos em pesquisa e desenvolvimento, estímulo à inovação, participação da academia, geração de empregos, pagamento de impostos e royalties dentro do país, além de retenção do conhecimento de engenharia e propriedade intelectual. Segundo uma pesquisa da associação P&D Brasil, de cada R$ 100 pagos pelo consumidor por um produto desenvolvido aqui, R$ 85 permanecem no país.
“Esses 85% referem-se à manutenção dos recursos no Brasil. Não é só dinheiro: estamos falando também de conhecimento, empregos, impostos, adensamento da cadeia produtiva, propriedade intelectual e lucro que ficam aqui”, explicou Rosilda Prates, presidente da P&D Brasil. “Isso gera soberania econômica. Importar produtos, ao contrário, transfere riqueza e tecnologia para outros países. A única coisa que fica no Brasil são custos administrativos. Todo o restante — insumos, importações, royalties — vai para fora”, prosseguiu.
A P&D Brasil é a Associação de Empresas de Desenvolvimento Tecnológico Nacional e Inovação, que representa empresas e institutos. Juntos, somam R$ 92 bilhões em faturamento, R$ 2 bilhões de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e 58% da tecnologia desenvolvida em território nacional, segundo dados apresentados por Prates na Futurecom.
Parte do montante dos aportes é estimulado pelo programa Nova Indústria Brasil (NIB), lançado pelo governo federal no começo de 2024 e que prevê R$ 300 bilhões para financiamento de ações até 2026. Houve, também, fortalecimento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em fevereiro mostram que a injeção de recursos bateu recorde e aumentou 171% no ano passado em relação a 2023: só o FNDCT alcançou R$ 12,7 bilhões de orçamento e execução. Eles são aplicados em pesquisas em empresas e em instituições científicas e tecnológicas (ICTs), com financiamento reembolsável e não reembolsável.
Por meio da NIB, foram R$ 21,2 bilhões investidos em 1.416 propostas através da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) — mais de R$ 17,8 bilhões da entidade e cerca de R$ 3,4 bilhões em contrapartida empresarial. As políticas federais seguem apostando na chamada “indústria 4.0”: o governo anunciou uma linha de crédito de R$ 12 bilhões para renovação de maquinários e equipamentos no final de agosto, via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Finep. A NIB foi estruturada em seis eixos: cadeias agroindustriais, saúde, infraestrutura e mobilidade, transformação digital e defesa. Exemplos de projetos apoiados para criar tecnologia nacional e reduzir a dependência de importações são o desenvolvimento de anticorpos para tratamentos contra o câncer no Sistema Único de Saúde (SUS); a criação de protótipos de bateria para veículos elétricos; e um robô móvel autônomo inteligente integrado a redes neurais para melhorar a eficiência e segurança na área de logística.
O Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel) também desempenha papel estratégico na implementação da nova indústria. Segundo David de Oliveira Penha, presidente do conselho gestor, o fundo é constituído por 0,5% da receita bruta das operadoras de telecom e atua com governança envolvendo os ministérios da Indústria, da Ciência e Tecnologia e o BNDES. “Ele se situa no contexto da industrialização, pesquisa e desenvolvimento no setor de telecom, e foi mapeado como fonte de recursos para implementar a missão da digitalização. Temos projetos de datacenters, IA e descarbonização”, explicou, citando como exemplo um data center em Recife financiado pelo Funttel. “É importante que a sociedade nos cobre. A NIB tem que ser um espaço democrático e popular, onde o cidadão participe ativamente dos processos”, acrescentou.
Presidente do conselho da Brasscom, associação de empresas de tecnologia da informação e comunicação, Laercio Cosentino reforçou na Futurecom a necessidade de integração da indústria com a cadeia digital. “A indústria não é mais a mesma do passado. A fabricação deve ser integrada com logística, consumo e descarte. Precisamos conectar todos os produtos e serviços tecnologicamente”, afirmou.
Multinacionais como Siemens Brasil já atuam na cadeia da transformação digital. Segundo Pablo Fava, presidente da companhia, o país oferece oportunidades únicas para convergência entre mundo físico e digital.
“A Siemens acompanha as cadeias de inovação, atuando como gêmeo digital para todas as empresas”, disse o executivo. Segundo ele, a IA generativa vem aumentando a eficiência industrial por meio de predição e manutenção. “O metaverso industrial projeta cenários possíveis. E o Brasil tem oportunidade competitiva única: mais de 68% da nossa cadeia industrial já está descarbonizada”, concluiu.
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