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Para lobista, Trump vê Bolsonaro como “página virada” e busca diálogo com Lula

O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Thomas Shannon declarou que o presidente Donald Trump reconheceu que não conseguirá interferir no processo judicial envolvendo Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista para a BBC News Brasil, Shannon, que agora atua como lobista para o escritório americano Arnold & Porter, disse ainda que Bolsonaro “é página virada” para Trump e que a nova aproximação do republicano com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se insere nessa mudança de foco.

Shannon foi embaixador no Brasil entre 2009 e 2013, quando o presidente dos EUA era Barack Obama. Ligado ao partido Democrata, Shannon é crítico à direita e, no Brasil, aos Bolsonaros. Também ocupou o cargo de Subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, no governo de George W. Bush, e também o cargo de Subsecretário de Estado para Assuntos Políticos no governo Obama.

Ele se aposentou do serviço público em 2018 e hoje atua como assessor sênior de Política Internacional no escritório de advocacia que foi contratado pelo governo brasileiro para tentar reverter as tarifas impostas pelo governo de Trump aos produtos do Brasil.

Ao ser questionado, pela BBC News Brasil, se os pedidos de Trump pela anulação do julgamento de Bolsonaro foram retirados da mesa, Shannon foi categórico ao afirmar que sim. “Sim, foram — mas pelas ações das instituições brasileiras. Acho que Trump entendeu que sua tentativa de intervir em processos criminais no Brasil e de interferir em um processo eleitoral no Brasil não iria prosperar”, disse o lobista.

Shannon apontou ainda que apesar da insistência de Trump no tema envolvendo Bolsonaro, o Supremo Tribunal Federal teria deixado muito claro que “iria continuar com a acusação e manter a proibição de Bolsonaro concorrer nas próximas eleições”. “Uma vez que isso ficou evidente, o que os Estados Unidos poderiam fazer?”, questionou.

Apesar das ponderações, Shannon admitiu que “Trump não vai abandonar Bolsonaro”. “Ele o considera um amigo com visões políticas semelhantes. Mas é interessante notar que, em todas as comunicações com Lula, Bolsonaro não é mencionado. E não é mencionado porque Trump sabe que sua tentativa de proteger Bolsonaro da prisão e garantir que ele pudesse disputar eleições fracassou. Diante disso, o que resta fazer? Ele valoriza a lealdade e quer deixar claro que não vai abandonar Bolsonaro — mesmo que não possa mais ajudar”, completou.

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Lobista aponta que Trump teria sido “mal informado ou induzido ao erro” ao sancionar o Brasil

Na entrevista, Shannon também foi questionado sobre os gestos recentes de reaproximação entre o Brasil os Estados Unidos. Questionado sobre a forma como Trump suavizou o tom contra o Brasil, o lobista mencionou que o presidente dos EUA teria sido “mal informado ou induzido ao erro [ao sancionar o Brasil]”.

Para ele, a relação está em um “momento muito positivo” se comparado a como estava em agosto. A trégua na relação começou em setembro na Assembleia Geral da ONU, quando Trump e Lula se encontraram pela primeira vez em seus atuais mandatos. Após o rápido encontro, o norte-americano disse que houve uma “química excelente” entre os 2. Sobre esse encontro, Shannon ponderou que “quase certamente” ele teria sido planejado. “Se não pelo presidente Lula, com certeza pelo presidente Trump”, disse.

O ex-diplomata defende que Trump usou o reencontro para redefinir o cenário entre os dois países. “Ele [Trump] sabe quando não pode avançar em uma frente e procura outra”, disse Shannon.

Em 6 de outubro, os dois presidentes conversaram por telefone por cerca de 30 minutos, num tom descrito pelo Palácio do Planalto como “amistoso”. Nessa ocasião, o Brasil solicitou a retirada de sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros e o fim de medidas restritivas contra autoridades nacionais. Houve ainda uma reunião entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, classificada como “muito produtiva” pelo chanceler brasileiro.

Agora, Lula e Trump estão na Malásia e um possível encontro deve ser realizado no domingo (26) durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).

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