A bancada da oposição, liderada pelo PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, aproveita o clima de tensão entre o Palácio do Planalto e o Centrão para articular uma sequência de derrotas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que enfrenta desgaste após os recentes ataques do presidente ao Congresso e a “faxina” em cargos indicados por partidos aliados. O movimento mira temas sensíveis para o petista, como o decreto que amplia a estrutura ligada à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, a PEC da Segurança Pública e os vetos à Lei Geral do Licenciamento Ambiental.
A principal articulação ocorre em torno do decreto assinado em agosto pelo Executivo, que ampliou o acesso da primeira-dama aos serviços do Gabinete Pessoal da Presidência. O texto, firmado por Lula e pelos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Esther Dweck (Gestão), determina que o gabinete deve “apoiar o cônjuge do presidente da República no exercício de atividades de interesse público”.
“A primeira-dama não concorreu a qualquer cargo e, muito menos, foi eleita ou autorizada pela Constituição Federal ou por qualquer lei em sentido estrito a ter verba, funcionários públicos à sua disposição e, o pior, representar o chefe do Executivo em atividades de caráter cultural, social ou cerimonial”, afirmou o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante.
Nesta semana, integrantes da oposição apresentaram ao menos 12 Projetos de Decreto Legislativo (PDLs) para sustar o ato presidencial. Para o líder da bancada, Luciano Zucco (PL-RS), o decreto “institucionaliza uma estrutura pública de apoio à primeira-dama, conferindo-lhe status administrativo sem amparo legal”.
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Oposição quer aproveitar crise do Centrão com o governo após ataques de Lula ao Congresso
Parlamentares do PL avaliam que o momento é de “desgaste” para Lula junto ao Centrão, e por isso acreditam ter uma “janela de oportunidade” para barrar projetos de interesse do Executivo. A crise política se agravou depois que o Planalto promoveu uma “faxina” em aproximadamente 100 cargos federais ligados a PP, União Brasil, PSD, MDB e Republicanos, em resposta à derrota na votação da Medida Provisória 1303, que tratava da tributação de fundos de investimento.
O embate se intensificou após Lula afirmar, no último dia 15, que o Congresso Nacional “nunca teve tão baixo nível” quanto o atual. O comentário foi feito diante do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), durante visita ao Rio de Janeiro.
“O Hugo é presidente desse Congresso, ele sabe que esse Congresso nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora. Aquela extrema-direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior”, disse Lula, em tom de ironia.
A declaração gerou mal-estar imediato entre deputados e senadores, inclusive entre aliados do Centrão que ainda mantinham diálogo com o governo. Parlamentares afirmam que Motta deveria ter reagido publicamente à crítica, interpretada como um ataque institucional ao Legislativo.
Em entrevista à GloboNews, o presidente da Câmara minimizou o episódio e disse acreditar que o petista se referiu apenas à “extrema-direita”.
“Quando o presidente se dirigiu ao Congresso, penso que ele quis fazer uma crítica à extrema-direita. Se o presidente tiver falado sobre o Congresso – que eu acredito que ele não falou -, quero dizer que discordo plenamente, porque foi esse Congresso que aprovou quase tudo o que o governo enviou, claro, com modificações”, afirmou Motta.
PEC da Segurança pode ser esvaziada e vetos ao licenciamento ambiental ampliam pressão sobre o governo
Além da crise política provocada pelas declarações de Lula e pela “faxina” em cargos do Centrão, o governo enfrenta duas frentes simultâneas de pressão no Congresso: o risco de esvaziamento da PEC da Segurança Pública e a tentativa de derrubada dos vetos à Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Ambos os temas mobilizam amplas bancadas e ameaçam impor novas derrotas ao Planalto.
A PEC da Segurança, proposta apresentada pelo governo, inclui na Constituição o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e o Fundo Penitenciário Nacional, mas é criticada por governadores, secretários estaduais e parlamentares da oposição, que acusam o Planalto de tentar centralizar recursos e decisões sobre políticas de segurança.
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que a proposta “engessa” o acesso de estados e municípios aos fundos nacionais e fere o princípio federativo.
“O governo não pode centralizar tudo, ditando diretrizes baseadas em um conselho nomeado pelo próprio governo. Hoje, o financiamento da segurança recai sobre os estados, que arcam com cerca de 80% dos custos. O fundo nacional traz valores irrisórios”, disse Derrite, deputado federal licenciado e cotado para disputar o Senado em 2026 com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O relator da PEC, Mendonça Filho (União-PE), alterou o texto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas ainda enfrenta resistência dentro da própria comissão e entre líderes do Centrão. A intenção é levar o texto ao plenário na primeira semana de novembro, mas deputados admitem que o governo corre o risco de ver a proposta desidratada – ou até rejeitada -, caso não consiga recompor sua base.
Paralelamente, o Planalto tenta conter uma nova crise em torno dos vetos presidenciais à Lei do Licenciamento Ambiental, cuja sessão de análise no Congresso foi adiada por decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), a pedido do governo. A medida foi vista como uma manobra para evitar uma derrota certa, já que há maioria consolidada para derrubar parte dos 63 vetos feitos à lei, sobretudo os que flexibilizam regras e ampliam competências de estados e municípios.
O governo teme que a derrubada dos vetos tenha repercussão negativa na COP 30, que será realizada em Belém (PA), e tenta ganhar tempo para construir um acordo.
“Fica o caminho mais pavimentado para o eventual acordo, e alguns temas que eu considero que são incompatíveis, são antagônicos para acordo, aí vamos à apreciação e vamos ao voto, e o governo vai sustentar a posição de manutenção do veto”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, após o adiamento da sessão.
A Coalizão das Frentes Produtivas, formada por 12 frentes parlamentares – entre elas as da Agropecuária, do Livre Mercado, do Empreendedorismo e do Saneamento Básico -, criticou o adiamento e afirmou que o impasse “frustra os esforços de diálogo e posterga soluções para o desenvolvimento com responsabilidade ambiental”.
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