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O que esperar de Marco Rubio como negociador com o Brasil

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O governo Lula confirmou nesta segunda-feira (6) que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, designou o secretário de Estado Marco Rubio para conduzir as futuras negociações bilaterais com o Brasil.

A decisão foi anunciada após uma conversa de 30 minutos entre os dois presidentes, na qual Lula pediu a Trump q retirada das tarifas sobre produtos brasileiros e a suspensão de medidas restritivas – como sanções e restrições de vistos – impostas a autoridades brasileiras, sendo a mais dura delas a Lei Magnitsky, aplicada ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci.

O que esperar de Rubio como negociador

Para o analista político Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly, a designação de Rubio como negociador é “o caminho mais duro possível para o Brasil”, ou seja, o governo Lula deve lidar com um representante difícil, que deverá fazer solicitações exigentes.

Em publicação em seu perfil no X, Winter escreveu que “os brasileiros acham que a ligação [entre Trump e Lula] correu bem, mas Trump nomear Marco Rubio como responsável pelas conversas é o cenário mais difícil [para as negociações] – ele é um crítico antigo de Lula e pode impor exigências relacionadas à Venezuela, à China e a outros temas”.

Na noite desta segunda, horas após o telefonema com Trump, Lula afirmou em entrevista à TV Mirante, do Maranhão, que pediu a Trump para que Rubio “converse com o Brasil sem preconceito”.

Em artigo publicado no final de setembro na Americas Quarterly, Winter avaliou que a reaproximação entre a Casa Branca e o Planalto – que culminou nesta designação de Rubio – integra a estratégia de Trump para “baixar a temperatura” nas relações com o Brasil – mas “apenas um pouco”. Segundo o analista, o presidente americano busca agora “um ponto de equilíbrio entre pragmatismo econômico e coerência ideológica”. Para Winter, a nova linha de Washington em relação ao Brasil deve preservar parte das sanções previstas pela Lei Magnitsky, aplicadas contra Alexandre de Moraes e sua esposa, enquanto abre espaço para acordos em áreas de interesse dos Estados Unidos no país, especialmente minerais críticos e tecnologia.

O cientista político Nauê Bernardo Azevedo, professor do Ibmec – Brasília, concorda que Rubio chega com peso político e forte inclinação ideológica, mas avalia que sua influência nas negociações poderá ser limitada pela forma centralizada como Trump conduz o governo americano.

“Enquanto secretário de Estado, Rubio é um agente político com muita força dentro do governo, com forte inclinação ideológica e proximidade com a família Bolsonaro. Por outro lado, a forma de fazer política no governo Trump 2 tem mostrado que poucos agentes possuem poder de efetivamente impor posições sobre o presidente Trump, o que dá indicativos de que a negociação estará atrelada ao que for por ele determinado”, afirmou o analista à Gazeta do Povo. “Se há uma boa relação entre o presidente Trump e o presidente Lula, não se pode descartar a possibilidade de um acordo razoável para o Brasil”, disse.

Por sua vez, o economista João Gabriel Araujo, também professor do Ibmec, apresentou uma leitura mais pragmática sobre a escolha da Casa Branca. Para ele, a definição de Rubio como negociador pelo lado americano não deve ser interpretada neste momento como um gesto político de endurecimento da política americana em relação ao Brasil, mas como uma decisão estratégica do governo Trump para proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos.

“A designação de um representante para conduzir negociações com o Brasil representa, ainda que haja visões opostas, uma aproximação diplomática. O sinal de endurecimento ocorre quando não há interesse de uma ou nenhuma das partes em buscar uma solução, limitando-se apenas à imposição de sanções. Neste caso, haverá uma negociação, especialmente devido à pressão interna causada pela possível inflação de alimentos nos Estados Unidos”, disse.

Linha-dura contra a esquerda e anticomunista

Marco Rubio, de 54 anos, é um dos principais nomes do Partido Republicano e símbolo da ala anticomunista dos Estados Unidos. Filho de cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro, o atual secretário de Estado construiu sua trajetória política combatendo governos, regimes e movimentos de esquerda na América Latina.

No Senado americano, Rubio se destacou como um dos parlamentares mais atuantes contra o avanço de regimes autoritários na região. Foi autor de sanções contra o ditador venezuelano Nicolás Maduro – aliado de Lula – e crítico ferrenho da reaproximação entre Washington e Havana durante o governo de Barack Obama. Também defendeu medidas de pressão econômica sobre o regime cubano e o endurecimento de restrições a países alinhados ao socialismo.

À frente do Departamento de Estado, Rubio manteve o mesmo tom de confronto contra a esquerda mundial. Foi ele quem denunciou neste ano o programa Mais Médicos, do Brasil, como um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano” e determinou, como punição, a revogação de vistos de autoridades brasileiras ligadas ao projeto, entre elas o atual ministro da Saúde de Lula, Alexandre Padilha, seus familiares e ex-funcionários da pasta. Sob seu comando, o Departamento de Estado também ampliou sanções dos Estados Unidos contra Cuba, Venezuela, Nicarágua e outros países que considerou cúmplices da exploração médica cubana, bem como denunciou em relatório o aumento das violações dos direitos humanos no Brasil, principalmente por parte do Poder Judiciário.

Ainda em relação ao Brasil, Rubio tem sido um dos críticos mais duros do governo Lula. Enquanto senador no ano passado, ele chamou Lula de “líder de extrema esquerda que encobre a natureza criminosa do narco-regime de Maduro” e condenou o bloqueio da rede X determinado por Alexandre de Moraes, classificando a medida como censura.

Sob sua direção, o Departamento de Estado também revogou neste ano os vistos de autoridades do governo Lula, de Moraes e seus aliados no Supremo Tribunal Federal, e do Procurador-Geral da República, sob acusação de que eles compactuaram com abusos contra opositores e promoveram um “caça às bruxas contra Bolsonaro”.

Oposição vê recado de endurecimento dos EUA em relação ao Planalto

A escolha de Rubio como negociador dos EUA foi comemorada por parlamentares da oposição no Brasil, que interpretaram o gesto de Trump como um recado direto ao governo Lula. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) classificou a nomeação como um “golaço”, afirmando que Rubio “conhece bem a América Latina” e “não entraria na conversa de judiciário independente”.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que o diálogo com Rubio é “uma oportunidade de tratar com alguém que entende os prejuízos do socialismo”. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) chamou a medida de “jogada de craque” e “recado direto ao Planalto”. Já Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou que “a química azedou” e que Rubio seguirá “a carta de Trump: normalidade democrática, fim da censura e perseguição política, eleições livres e deixem Bolsonaro em paz”.

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