Gritos de “Fora Morena” — o partido governista —, “Estado corrupto, estou de luto por sua causa” e “Narco-presidente” podiam ser ouvidos entre os manifestantes de diversas origens e classes sociais, que não ostentavam símbolos partidários, mas estavam unidos pela insatisfação com o governo Sheinbaum, no poder há pouco mais de um ano.

Claudia Cruz, uma advogada de 30 anos, disse que marchava por um país melhor. Fidel Sandoval, um professor aposentado de 78 anos, disse que protestava contra a falta de justiça. Arizbeth García, uma médica internista de 43 anos, protestava de jaleco branco contra as deficiências do sistema público de saúde e “porque nós também estamos expostos à insegurança que existe no país, onde alguém pode te matar e nada acontece”.

Alguns jovens se mostraram relutantes em falar com a imprensa e não souberam explicar o motivo do protesto.

A marcha foi majoritariamente pacífica, embora no final alguns jovens com os rostos cobertos tenham derrubado as barricadas que as autoridades haviam erguido para proteger partes do Zócalo — a praça principal do país — e tenha havido confrontos com a polícia, com o lançamento de fogos de artifício, pedras e gás lacrimogêneo.

Durante o protesto, que se repetiu em menor escala em outras cidades do país, havia bandeiras mexicanas e também bandeiras brancas exigindo justiça para o popular prefeito de Michoacán, Carlos Manzo, assassinado neste mês e cujo crime permanece sem solução. Muitas pessoas usavam chapéus de palha, simbolizando seu movimento político de oposição, e alguns manifestantes estavam a cavalo.

Algumas contas pertencentes a ativistas da Geração Z acabaram se distanciando do evento, enquanto figuras da oposição, como o ex-presidente mexicano Vicente Fox, do conservador Partido da Ação Nacional, e o empresário bilionário Ricardo Salinas Pliego, de 70 anos, os apoiaram.

O governo Sheinbaum denunciou a manifestação como um evento manipulado e orquestrado pela direita internacional usando bots.

Ao longo da marcha, também se viam algumas bandeiras pretas com a caveira sorridente de chapéu de palha e ossos cruzados do mangá japonês “One Piece”, o emblema da Geração Z. No entanto, esses jovens na casa dos vinte anos, nativos digitais liderando uma onda global de descontentamento geracional, unidos pelo cansaço com a classe política e a desigualdade, não eram a maioria.

Os protestos da Geração Z levaram à renúncia do governo nepalês e foram replicados em países asiáticos e africanos com diferentes motivações. Na América Latina, as manifestações de outubro no Peru, que exigiam a renúncia do presidente interino José Jerí, utilizaram o mesmo símbolo, embora marchas subsequentes, como a desta sexta-feira, tenham tido organizadores diferentes.

A presidente mexicana, que assumiu o cargo em 1º de outubro de 2014, mantém altos índices de aprovação e, embora seja uma defensora ferrenha do legado de seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, mudou sua estratégia de segurança, bastante criticada, para combater o crime organizado com mais força, em parte devido à pressão dos Estados Unidos.

No entanto, os problemas estruturais do país, como insegurança, corrupção e impunidade, persistem, e atos recentes de violência, como os ocorridos em Michoacán, alimentaram o descontentamento.