Início Mundo Hamas tem escolha entre paz de Trump e “aniquilação total”

Hamas tem escolha entre paz de Trump e “aniquilação total”

No dia 7 de outubro de 2023, quando matou 1,1 mil pessoas e sequestrou outras 251 em Israel, o grupo terrorista Hamas tinha cerca de 30 mil integrantes. Destes, cerca de 25 mil foram mortos na guerra iniciada em seguida na Faixa de Gaza, segundo as Forças de Defesa israelenses (FDI).

Outros fatos ilustram como o grupo terrorista palestino foi arrasado ao longo desses dois anos: os seus principais líderes militares e políticos, como Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar, foram mortos; os aliados Irã e Hezbollah também sofreram grandes perdas nos últimos dois anos e foram obrigados a aceitar acordos de cessar-fogo; e a população de Gaza, cansada de 19 anos de ditadura do Hamas e de dois anos de guerra, não apoia mais os terroristas e pede que aceitem o plano de paz proposto pelo presidente americano, Donald Trump.

Em entrevista à reportagem, o coronel da reserva e analista militar Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, colunista da Gazeta do Povo, disse que, embora não haja dados reais e fidedignos sobre a atual capacidade militar do Hamas, é certo que hoje ela é “uma fração do que existia em 7 de outubro de 2023”.

“O Hamas sofreu muito com toda essa ofensiva israelense. Suas principais lideranças foram eliminadas, a pressão de Israel secou os canais de suprimento. Então, não deve estar recebendo já há muito tempo grandes quantidades de munição, grandes quantidades de armamentos”, afirmou.

A resposta final do Hamas à proposta de paz de Trump (as negociações indiretas com Israel começaram nesta segunda-feira, 6, no Egito) vai definir o futuro do (pouco) que resta do grupo terrorista.

O plano de Trump prevê que Gaza deve se tornar “uma zona desradicalizada e livre de terrorismo, que não representará uma ameaça aos seus vizinhos” e estipula que, assim que os 48 reféns israelenses que permanecem em Gaza (dos quais acredita-se que 20 estejam vivos) forem libertados, os membros do Hamas “que se comprometerem com a coexistência pacífica e a entregar suas armas receberão anistia”.

“Os membros do Hamas que desejarem deixar Gaza receberão passagem segura para os países receptores”, acrescentou a proposta.

Na sua resposta inicial na sexta-feira (3), o Hamas disse aceitar a troca de todos os reféns por prisioneiros palestinos e ceder a gestão de Gaza para uma administração palestina de “tecnocratas”, desde que haja “consenso nacional palestino e apoio árabe e islâmico”, mas não falou sobre a anistia e sobre entregar armas.

O grupo terrorista se limitou a dizer que os itens do plano de paz que falam do futuro de Gaza devem ser discutidos no âmbito de “uma estrutura nacional palestina inclusiva, da qual seremos parte integrante e para a qual contribuiremos com total responsabilidade”.

Ou seja: o Hamas quer fazer parte das discussões sobre o futuro dos territórios palestinos, o que entra em contradição com os objetivos de guerra de Israel (que quer a eliminação do grupo terrorista) e com a posição de Trump – no domingo (5), o presidente americano disse à CNN que o Hamas sofrerá “aniquilação total” se insistir em permanecer no poder em Gaza.

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Mesmo os países do Ocidente que no final de setembro reconheceram um Estado palestino afirmaram que o Hamas não deve ter voz no futuro governo dos territórios.

Gomes Filho acredita que dificilmente o Hamas vai conseguir exercer algum protagonismo político daqui para a frente.

“Israel não vai permitir, os Estados Unidos não vão permitir que o Hamas como tal exerça esse protagonismo político. O que pode acontecer é o grupo se reinventar, novos integrantes surgirem a partir de uma nova denominação. Mas o Hamas, como Hamas, eu acho muito difícil que consiga ter ainda algum protagonismo político”, explicou.

Em artigo para o site The Conversation, Mkhaimar Abusada, pesquisador visitante de assuntos globais da Universidade Northwestern (Estados Unidos), disse que a única opção para o Hamas sobreviver de alguma forma é aceitar o plano de paz de Trump e abandonar o terrorismo – eventualmente, transformando-se num partido político, como a Organização para a Libertação da Palestina fez após sua saída de Beirute, em 1982, quando colocou “a política e a diplomacia” acima da violência.

Porém, a “ideologia rígida” do Hamas é um obstáculo a esse caminho, afirmou Abusada. “Desde sua formação em 1987, o Hamas se apegou a uma ideologia islâmica linha-dura que não permite concessões fundamentais em questões como o reconhecimento de Israel e o desenvolvimento da Palestina como um Estado laico”, destacou.

Independentemente de qual trilha o Hamas vai seguir, Gomes Filho pontuou que a decadência do grupo terrorista não significa que as ameaças contra Israel nos territórios palestinos vão acabar.

“Pessoas que perderam família, pessoas que perderam casa, pessoas que perderam emprego, todo esse sofrimento causado pela guerra, isso transforma essa população em campo fértil para a aquisição de novos elementos radicalizados no futuro”, afirmou.

“É possível e é provável que novos grupos, novas denominações surjam dos escombros, literalmente, das cidades da Faixa de Gaza.”

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