InícioBrasilEm novo julgamento, Bolsonaro é condenado por falas racistas

Em novo julgamento, Bolsonaro é condenado por falas racistas

Publicado em

SIGA NOSSAS REDES SOCIAS

spot_img

Menos de uma semana após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrentou um novo julgamento nesta terça-feira (16) em que foi condenado a pagar uma indenização de R$ 1 milhão por danos morais coletivos. O caso foi analisado pela 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre e tratava de declarações públicas consideradas “discriminatórias e ofensivas a pessoas negras”.

A ação civil pública foi apresentada em 2021 pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Defensoria Pública da União (DPU) contra Bolsonaro e a União. Os procuradores pediam que o ex-presidente pagasse R$ 5 milhões em indenização coletiva, enquanto a União seria condenada a R$ 10 milhões. Tanto Bolsonaro quanto a União foram condenados a pagar R$ 1 milhão cada.

Por se tratar de processo cível, não havia previsão de pena de prisão. A defesa de Bolsonaro, representada pela advogada Karina Kufa, argumentou que as declarações não tiveram conotação racial e se restringiram ao comprimento do cabelo do interlocutor. A defesa havia vencido a ação em primeira instância e ainda cabe recurso à decisão nas instâncias superiores.

O processo teve origem em falas de Bolsonaro direcionadas a um apoiador negro com cabelo black power, em frente ao Palácio da Alvorada e durante sua tradicional live nas redes sociais enquanto ainda era presidente. Na ocasião, Bolsonaro comparou o cabelo do homem a um “criador de baratas” e mencionou piolhos, associando a estética a sujeira e pragas.

O relator do caso, desembargador federal Rogério Favreto, destacou que manifestações apresentadas como brincadeiras – racismo recreativo – reforçam estigmas raciais e perpetuam práticas de desumanização que remetem ao período da escravidão. O desembargador foi acompanhado pelos dois outros desembargadores da turma.

Ainda segundo o relator, tais condutas caracterizam racismo recreativo, expressão que designa ofensas disfarçadas de humor para sustentar relações de desigualdade racial.

O desembargador Roger Raupp Rios acompanhou o voto, ressaltando que a gravidade é ainda maior quando os ataques partem de uma figura pública que ocupava a Presidência da República. Para os magistrados, ainda que o apoiador alvo dos comentários tenha minimizado as falas, “o impacto coletivo da ofensa é inegável em uma sociedade marcada pelo racismo estrutural”.

A procuradora regional da República Carmen Elisa Hessel defendeu a condenação, afirmando que as falas reforçam estereótipos negativos e contribuem para a marginalização da população negra. O Ministério Público Federal (MPF) também pediu que a União realize uma campanha nacional de combate ao racismo.

A decisão reforma sentença de primeira instância, proferida em fevereiro de 2023, que havia absolvido Bolsonaro sob o entendimento de que não houve dano moral coletivo. O caso ganhou repercussão porque o apoiador que recebeu os comentários, Maicon Sulivan, conhecido como “Black Power do Bolsonaro”, afirmou não ter se sentido ofendido e defendeu o ex-presidente.

Com a condenação, Bolsonaro e a União ficam obrigados ao pagamento da indenização, enquanto o pedido por campanha nacional contra o racismo ainda deve ser avaliado em instâncias superiores. Os magistrados também determinaram a retirada dos materiais com conteúdo relacionado ao racismo das redes sociais de Jair Bolsonaro.

  • Temer diz que anistia unilateral do Congresso seria considerada inconstitucional
  • PT anuncia ação contra Valdemar após declarações sobre o 8 de janeiro

Veja as declarações de Bolsonaro que motivaram condenação

Os episódios citados na denúncia como racismo praticado por Bolsonaro ocorreram em maio e julho de 2021, quando Bolsonaro ainda era presidente. No dia 4 de maio, ele perguntou a um apoiador negro de cabelo crespo “o que cria nessa cabeleira aí”. Dois dias depois, repetiu a provocação dizendo “tô vendo uma barata aqui”. Já em 8 de julho comparou o cabelo de um homem negro a um “criatório de baratas” e sugerindo que ele não usasse ivermectina senão mataria os “piolhos”.

No mesmo dia, Bolsonaro levou esse apoiador à sua tradicional live do presidente, aonde disse: “Se eu tivesse um cabelo desse, minha mãe me cobriria de pancada” e “se criarem cota para feios, você vai ser deputado federal”. Ainda durante a transmissão, fez comentários ao exibir uma foto da jornalista Maju Coutinho.

Segundo o MPF e a DPU, as falas não se limitaram a ofender um indivíduo específico, mas representaram um discurso estigmatizante contra a população negra, o que ficou comprovado, segundo os desembargadores. Os procuradores afirmaram na ação que Bolsonaro procurou transformar “um elemento de identidade em algo sujo e execrável, reforçando estereótipos de inferioridade social”.

  • STF não deve abrir mão de protagonismo político após julgamento de Bolsonaro
  • MPF pede cancelamento de concessões da Jovem Pan por “risco ao regime democrático”

@jornaldemeriti – Aqui você fica por dentro de tudo.
Fala com a gente no WhatsApp: (21) 97914-2431

Artigos mais recentes

financiadores de atos contra a direita são investigados

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o Departamento de Justiça (DOJ,...

Tarcísio tenta construir perfil de candidato de direita moderada

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem tentado nas últimas semanas...

Em NY, Lula se encontrará com CEO do Tik Tok e participará de evento sobre Palestina na segunda-feira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a...

Trump retorna à Assembleia Geral em meio a guerra com a ONU

O debate geral da 80ª Assembleia Geral da ONU terá início nesta terça-feira (23)...

MAIS NOTÍCAS

financiadores de atos contra a direita são investigados

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o Departamento de Justiça (DOJ,...

Tarcísio tenta construir perfil de candidato de direita moderada

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem tentado nas últimas semanas...

Em NY, Lula se encontrará com CEO do Tik Tok e participará de evento sobre Palestina na segunda-feira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a...
Abrir bate-papo
1
Olá
Podemos ajudá-lo?