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Discurso de ‘já ganhou’ de Lula esbarra em economia e desgastes

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oficializou a sua candidatura à reeleição neste mês em viagem à Indonásia, gesto que o mundo político já dava como certo há mais de um ano. Seu discurso em tom de “já ganhou” encontra, contudo, obstáculos.

Para analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o otimismo de Lula encontra respaldo em pesquisas recentes sobre intenção de voto. Apesar disso, eles frisam que desafios fiscais e políticos, além da sua tensa relação com o Congresso, impõem severos limites à euforia manifestada pelos governistas.

Na mais recente pesquisa, do Instituto Paraná, divulgada na segunda-feira (27), Lula lidera no primeiro turno, com 37% dos votantes, em todos os cenários, e vencendo qualquer adversário no segundo turno. Foram ouvidos 2.020 eleitores entre os dias 21 a 24 de outubro, com margem de erro de 2,2 pontos percentuais.

Analistas observam que os levantamentos eleitorais abrigam contradições dos eleitores: embora Lula figure à frente nas simulações, boa parte deles diz que o presidente não deveria disputar novo mandato. O dado se junta à taxa de desaprovação do governo acima da aprovação, em sinal de cansaço.

Base de apoio parlamentar frágil mantém incerta a governabilidade de Lula

A ausência de base parlamentar sólida no Congresso, sobretudo na Câmara, continua sendo o principal fator de instabilidade para este terceiro mandato de Lula. Prova disso está no impasse em torno do Orçamento federal de 2026, causado pela queda de braço com os parlamentares por recursos.

Enquanto os líderes governistas tentam garantir verbas para programas sociais em ano eleitoral, a maioria formada pelo Centrão quer pagamento integral de suas emendas parlamentares até junho. Tudo isso em meio ao crescente aperto do Executivo para cumprir metas fiscais.

Segundo analistas, o risco de estrangulamento fiscal é real, com avanço da dívida pública, dificuldades para se ampliar ainda mais a carga tributária e a resistência do governo em cortar gastos. Esse quadro pode até antecipar para o próximo ano o colapso das contas públicas previsto para 2027.

Para o cientista político Ismael Almeida, as dificuldades para equilibrar as contas públicas e lidar com um Congresso hostil ameaçam as perspectivas eleitorais de Lula. “A debandada do Centrão da base e perigos que rondam a economia anulam o discurso de que está tudo bem na parte fiscal”, diz.

CPMI do INSS, gafes e postura mais radical à esquerda jogam contra Lula

No contexto explicitamente político, a corrida de Lula pela reeleição esbarra ainda na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os desvios de aposentadorias e pensões do INSS. As revelações de esquemas envolvendo aliados podem, em tese, criar constrangimentos e desgaste para o presidente.

Lula segue ainda tropeçando nas palavras e prejudicando sua reputação, como na recente fala em que chamou traficantes de vítimas dos usuários, largamente explorada pela oposição. Ele se vê agora pressionado especialmente pela megaoperação realizada pelo governo de Cláudio Castro (PL) que resultou nas mortes de 117 criminosos que decidiram enfrentar as forças policiais nos complexos do Alemão e da Penha.

Castro demonstrou força política ao bancar a ação mesmo em meio a críticas da esquerda sobre a letalidade da operação. Lula agora precisa agora adotar ações robustas a altura na área da segurança, mas se fizer isso sofrerá de sua própria base.

Sua postura mais radical à esquerda, que refuta uma postura de enfrentamento mais duro da criminalidade, também afasta o eleitor centrista e amplia a rejeição de setores produtivos.

O consultor eleitoral Paulo Kramer avalia que a oposição pode vencer Lula em 2026, desde que explore fragilidades do presidente. Para isso, considera essencial preservar a liderança de Jair Bolsonaro (PL), silenciado há quase três meses pela Justiça, por meio da indicação de um porta-voz. “Essa estratégia é vital”, diz.

Kramer afirma que o desafio imediato dos conservadores é recolocar a pauta da anistia entre as prioridades do Congresso, atraindo novamente o Centrão para a causa. Em paralelo, espera que a oposição siga denunciando o “desastre econômico” do governo e ofereça outra política econômica.

No âmbito externo, Lula deve enfrentar apoio de Trump à direita brasileira

A grande vitória do presidente da Argentina Javier Milei nas eleições legislativas de meio de mandato – com apoio explícito do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e contrariando todas as pesquisas de opinião –, serve de alerta para Lula. A onda favorável à direita pode se repetir no Brasil.

Em meio a uma possível ação americana direta ou indireta na Venezuela, Trump pode servir de retaguarda à oposição conservadora no Brasil. A direita, por sua vez, avança na América do Sul, com a recente vitória de Rodrigo Paz na eleição presidencial da Bolívia, encerrando quase 20 anos de domínio da esquerda.

O professor de Ciência Política Antônio Flávio Testa aponta competitividade eleitoral de Lula apesar da alta rejeição em vários setores, beneficiando-se do histórico de decisões favoráveis no Judiciário. Para ele, a CPMI do INSS, por sua vez, dificilmente atingirá alvos políticos próximos do presidente.

Segundo Testa, o avanço da direita sul-americana e o combate americano à articulação da esquerda regional — associada a cartéis de drogas — podem mudar o cenário político brasileiro. “Com a parceria do governo com o Judiciário e o Senado, só a pressão externa altera a conjuntura”, observa.

Negociação de Lula para encerrar tarifaço dos EUA não tem horizonte claro

Para o consultor e conselheiro de empresas Ismar Becker, as negociações de Lula e seus ministros para tentar encerrar o tarifaço de 50% dos Estados Unidos a produtos do Brasil seguem conhecido roteiro fixado por Trump: ele inaugurou uma crise, elevou a tensão e, por fim, chamou para a conversa.

“Lula caiu facilmente na armadilha e se complica à medida que se sente à vontade para falar o que não deve, como foi a sua desastrosa menção a traficantes como sendo vítimas de usuários e na oferta para mediar tensões entre Estados Unidos e Venezuela e até entre Rússia e Ucrânia”, observa.

Segundo Becker, a tal “química” entre os líderes se deve menos à afinidade pessoal e mais à pressão empresarial. A negociação continua, mas o seu desfecho tende a demorar. “Caso ocorra a suspensão parcial das tarifas extras de 40%, deverá ser temporária e restrita a alguns setores”, aposta.

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