A primeira semana de painéis da Casa do Seguro, espaço da Confederação Nacional das Seguradoras (Cnseg) na COP30, termina com discussões que conectam agronegócio, finanças e saúde ao enfrentamento climático.
Mais de 30 lideranças de diferentes empresas e entidades subiram ao palco da Casa do Seguro neste sábado (15) para seguir debatendo propostas para o combate às mudanças climáticas e a prevenção de seus impactos.
A empoderadora Prudential conduziu diálogos sobre resiliência climática e as conexões entre clima e saúde. Além disso, ferramentas de proteção ao agronegócio e a união do setor financeiro em torno do tema foram apresentadas em painéis realizados em parceria entre a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Os últimos painéis do dia abordaram soluções para alcançar emissões net zero, proteção de ações baseadas na natureza e transição justa.
A iniciativa conta com o apoio de Allianz, AXA, BB Seguros, Bradesco Seguros, Caixa Seguridade, MAPFRE, Marsh McLennan, Porto, Prudential e Tokio Marine.
Confira o que rolou no sexto dia de evento.
Descarbonização do Agronegócio: caminhos para reduzir emissões e promover sustentabilidade
Os produtores rurais respondem por cerca de 30% das emissões do país — volume que tende a crescer, passando de 480 milhões de toneladas de CO₂ em 2023 para 790 milhões em 2050. Os dados foram apresentados por Alessandra Fajardo, diretora-executiva técnica do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), no primeiro painel do dia.
Ela destacou ainda um levantamento que identificou 15 alavancas de agricultura regenerativa e de baixo carbono. Segundo Fajardo, essas práticas poderiam reduzir até 80% das emissões líquidas, desde que acompanhadas de investimentos estimados entre US$ 120 bilhões e US$ 170 bilhões.
Nesse cenário, as seguradoras aparecem como atores estratégicos. Pedro Werneck, gerente de sustentabilidade da CNseg, afirmou: “O seguro é fundamental para viabilizar ações de longo prazo, como as iniciativas de sustentabilidade”.
“O produtor precisa de recursos de longo prazo, e o mercado de capitais tem um papel decisivo nesse processo”, afirmou Luiz Pires, gerente de sustentabilidade e inovação da Anbima. A avaliação é compartilhada por Cintia Oller Cespedes, gerente de sustentabilidade da Federação Brasileira de Bancos (Febraban): “Com análises integradas, conseguimos entrar neste mercado.”
Do lado das empresas do agronegócio, a disposição para buscar financiamento é clara. Leon Cruz, especialista de ESG da Citrosuco, destacou que o acesso a crédito permite ao produtor “planejar ações de longo prazo sem comprometer suas reservas”.
Já Juliana de Lavor Lopes, diretora de ESG da Amaggi, chamou atenção para a necessidade de educar o mercado de capitais: “O investidor, especialmente o estrangeiro, ainda não conhece o agro brasileiro. A comunicação é fundamental para mudar esse cenário”.
Painel 1 – O Papel do Setor de Seguros na Resiliência Climática e Social
Mais frequentes e prejudiciais, os incidentes climáticos afetam as seguradoras em duas frentes, avalia Patricia Freitas, CEO da Prudential. “Um dos desafios é econômico. O outro é garantir a qualidade de vida das pessoas diante de doenças que tendem a se tornar mais comuns, como dengue, problemas cardiovasculares e câncer. Nesse sentido, o seguro cria sustentabilidade e proteção de longo prazo”, afirmou.
Segundo ela, os seguros de vida, em especial, têm potencial de gerar impactos sociais positivos. “O futuro depende de coragem, inovação e da capacidade de proteger o que é mais valioso: as pessoas, as florestas e o planeta. Para isso, temos o desafio de ampliar a participação do setor, com ações de educação financeira que ajudem as pessoas a entender que seguros de vida também oferecem proteção em vida.”
Riscos climáticos à saúde
No primeiro painel conduzido pela Prudential, Tatiana Assali, sócia da consultoria ERM NINT, apresentou conclusões de um estudo sobre o impacto dos incidentes de causa climática na saúde. “O aumento da mortalidade pelo calor é um fator muito presente. Além disso, identificamos o risco de os casos de câncer relacionados a esses incidentes aumentarem em 200% até 2050. O setor segurador precisa olhar para esse novo cenário, que traz desafios, mas também oportunidades”, afirmou.
Nesse contexto, é essencial antecipar cenários, destacou Adriana Campelo, coordenadora regional da United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNDRR). “É muito mais eficiente prevenir do que atuar apenas depois que os danos ocorreram. Ainda assim, atualmente, boa parte das ações se concentra na recuperação pós-incidentes”.
Sustentabilidade na regulação
“Risco climático e biodiversidade são agendas conectadas; não é possível falar de uma sem considerar a outra”, afirmou Mabyr Valderrama, diretora de sustentabilidade da Federação Colombiana de Seguradoras (Fasecolda). Segundo ela, o setor segurador precisa atuar em duas frentes: proteger a natureza e fortalecer infraestruturas para que se tornem mais resilientes.
No Brasil, essa orientação já está incorporada às normas da Superintendência de Seguros Privados (Susep), como explicou a diretora Jessica Bastos. “Desde 2022, a Susep coloca a sustentabilidade no core business das seguradoras. Elas devem cumprir uma série de políticas de sustentabilidade, com atenção especial à gestão de riscos.” Reduzir as emissões geradas pelas próprias operações do setor também já integra a agenda regulatória, informou ela.
Painel 2 – Clima e Saúde: Redesenhando o Seguro para um Futuro Sustentável
Para Goret Pereira Paulo, diretora da rede de pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), avaliar o impacto dos incidentes climáticos sobre a saúde é fundamental. “Temos que coordenar informações em interação com as cidades.” A coleta estruturada desses dados ainda é um grande desafio, ressaltou Jean Pierre Ometto, pesquisador sênior do INPE: “80% dos municípios não têm dados confiáveis”.
Esse cenário reforça a importância de ações integradas, destacou a mediadora Gabriela Al-Cici, vice-presidente da Prudential: “O setor segurador tem condições de fazer essas conexões.” Já Luciana Dall’Agnol, superintendente de sustentabilidade da CNseg, apresentou o novo Radar de Eventos Climáticos e Seguros, que reúne dados públicos, privados e das seguradoras. “A ferramenta permite comparar diferentes regiões.”
Do conhecimento à ação: a jornada do setor financeiro
Nos últimos meses, o setor financeiro conduziu uma ampla ação de integração voltada ao desenvolvimento sustentável. Como explicou Claudia Trindade Prates, diretora de sustentabilidade da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), a aproximação com a Febraban e a Anbima tem caráter transformador. “Mercado de capitais, setor segurador e setor bancário são indutores de sustentabilidade. Desenvolvemos uma jornada de capacitação para chegarmos à COP30 unidos.”
Essa jornada inaugura uma nova forma de atuação conjunta, disse ela: “Conversamos sobre o desenvolvimento de um portal de educação e queremos implementar um inventário de emissões comum entre os setores. Olhamos para um futuro em que o setor é cada vez mais importante para a transição climática”.
Abertura pela CNseg, SUSEP e UNEP
A tarde de sábado FOI dedicada ao segundo dia do COP 30 Global Sustainable Insurance Summit, realizado pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) em parceria com a Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-FI). Em foco, emissões net zero, restauração da natureza e transição justa — temas centrais de três painéis.
A programação começou com um anúncio feito por Butch Bacani, head de seguros do United Nations Environment Programme: o lançamento de um guia inédito do Forum for Insurance Transition, iniciativa criada em 2024. “Precisamos de escala e agilidade, e, por isso, o fórum produz análises e documentos práticos para apoiar o setor”, afirmou. “Este novo guia apresenta boas práticas e detalha como as seguradoras podem realizar e documentar ações em prol da sustentabilidade.”
Painel 1 – Planos de Transição: Acelerando e Ampliando uma Transição Justa Rumo a uma Economia Net-Zero Resiliente
O primeiro painel do COP 30 Global Sustainable Insurance Summit reuniu três executivas à frente das estratégias de sustentabilidade em suas empresas. “Criamos um índice progressivo, baseado em uma combinação de indicadores-chave. Buscamos nos posicionar como referência em sustentabilidade, com foco em resiliência climática”, afirmou Catherine Chazal, head de meio ambiente e impacto social da AXA Group.
Claudine Blamey, diretora de sustentabilidade do Grupo Aviva, destacou a consistência das ações: “Em março de 2022 publicamos nosso primeiro plano de transição, e em 2025 o segundo. Não estamos fazendo promessas, estamos focando em ações concretas”.
Patrícia Coimbra, diretora de gente e cultura da Porto, reforçou a ambição da agenda: “Atuamos com descarbonização e circularidade. Temos uma companhia engajada e estamos acelerando a transição climática”.
Regulação que impulsiona
Para Jessica Bastos, diretora da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a adoção de práticas sustentáveis pode ser acelerada com base nas regras já estabelecidas para os mercados de seguros, resseguros, capitalização e previdência complementar aberta. “Atuamos para direcionar o mercado. Estamos inseridos em uma agenda pela transição, iniciada há cinco anos, que orienta o setor de seguros, hoje fortemente comprometido em assumir um papel de protagonismo”.
Ela destacou que a posição do setor é privilegiada: “Vivemos em um país marcado pela desigualdade de renda e pela informalidade no trabalho. Precisamos de produtos adequados a esse cenário, aproveitando os canais de distribuição das seguradoras, que são muito bem estruturados. Há grande espaço para avançar. O setor também pode contribuir educando os clientes sobre ações sustentáveis”.
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A Casa do Seguro recebeu mais um anúncio de estudo inédito — desta vez, um relatório elaborado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) sobre a lacuna de proteção securitária global. “Os seguros estão na base da economia; sem seguros, não há investimento. Mas as mudanças climáticas estão minando as fundações do setor”, afirmou Aaron Vermeulen, líder global da WWF International.
O documento recomenda uma combinação de ações para reverter este cenário: reduzir emissões e reverter a perda de recursos naturais; colocar as soluções baseadas na natureza no centro das ações de adaptação e resiliência; ampliar incentivos governamentais e regulatórios; e adotar um olhar holístico baseado na avaliação de riscos. “O setor segurador não consegue cobrir essas missões sozinho. Mas, com suporte adequado, pode assumir um papel central na transição climática.”
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