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“Indiquei um ex-colega para uma vaga na minha empresa, acreditando no potencial dele. Ele foi contratado, mas logo começou a atrasar prazos, não se comprometer com o time e até gerou comentários negativos sobre quem o indicou, que no caso, era eu. Depois de um tempo, ele saiu da empresa. Agora, essa mesma pessoa me procurou pedindo ajuda para uma nova oportunidade de trabalho e estou dividida entre dar uma segunda chance ou recusar. O que devo fazer?” Engenheira de produção, 38 anos
Dilema complicado: a vontade de ajudar alguém contrastando com o histórico de uma experiência que não deu certo com essa mesma pessoa. E é importante que você saiba que indicar alguém para uma vaga de trabalho é sempre um ato que mistura confiança e responsabilidade. Quem faz a indicação coloca seu nome junto ao do candidato e, em certa medida, empresta parte de sua credibilidade profissional ao outro.
Se a experiência dá certo, todos ganham: a empresa recebe um profissional adequado, a pessoa indicada conquista uma oportunidade e quem fez a indicação passa a ser visto como alguém de bom julgamento. Mas, quando o resultado é negativo, como no seu caso, a sensação de frustração é inevitável. Afinal, você acreditou no potencial de um ex-colega, mas ele não correspondeu às expectativas. Isso quer dizer que é legítimo querer saber até onde vale a pena arriscar novamente.
A primeira reflexão é: dar uma segunda chance é escolha e não obrigação. O que pode direcionar a sua decisão é a leitura que você faz da postura desse profissional desde o desligamento. O colega em questão reconhece as falhas do passado? Ele consegue explicar o que aprendeu e como pretende agir de forma diferente? Houve amadurecimento profissional ou pessoal que possa ter transformado a postura dele? Pessoas erram, todos nós já enfrentamos fases de menor desempenho. Mas é essencial entender se houve aprendizado para avaliar se há espaço para um recomeço.
Mas há outra possibilidade que, muitas vezes, não é considerada. É possível indicar alguém sem endossar a pessoa como a melhor escolha para a vaga. Nesse caso, você apresenta ao empregador um nome. Mas faz isso mencionando tanto os pontos positivos quanto as características desafiadoras que já observou no perfil ou na trajetória da pessoa.
Na prática, você pode dizer ao recrutador ou gestor algo como: “Conheço esse profissional. Tecnicamente, ele parece aderente à posição. Mas, no último emprego, ele enfrentou dificuldades X, Y e Z. Foram situações que, inclusive, contribuíram para a saída dele da empresa. Vale você avaliar se esses pontos já foram superados.”
Ao agir assim, você preserva sua integridade, não mascara informações e ainda dá ao empregador a possibilidade de investigar mais a fundo. Esse cuidado é importante, pois o desempenho de uma pessoa é calibrado por questões além da competência técnica. Muitas vezes, a dificuldade do profissional não está na falta de capacidade, mas na falta de afinidade dele com questões culturais ou de gestão da companhia em que trabalha.
O fato de alguém ter tido uma experiência negativa em uma empresa não significa, necessariamente, que a situação se repetirá em outra companhias. No entanto, caso a opção seja fazer uma nova indicação, tome o cuidado de não omitir informações e percepções. Cabe ao futuro empregador fazer o trabalho de checagem, buscar referências em outras experiências e entender o quadro de maneira mais ampla.
O peso da sua indicação também precisa ser levado em conta. Há situações em que a recomendação é apenas um apoio informal. Em outras, indicar funciona como uma espécie de selo de garantia. Quanto maior a responsabilidade atrelada ao seu nome, maior é a necessidade de cuidado. Se a lembrança da experiência anterior ainda te gera desconforto, talvez seja melhor ajudar de outra forma: revisar currículo, sugerir cursos, dar feedbacks ou mesmo apenas compartilhar contatos.
Entendo sua empatia diante do pedido de alguém que procura apoio. Mas a ajuda não pode colocar em risco a sua reputação. Isso porque confiança é um ativo valioso e difícil de reconstruir quando abalado. Ou seja, dizer “não” pode ser a escolha correta se a insegurança falar mais alto. Por outro lado, prefira dizer “sim” se perceber sinais de mudança e se tiver espaço para fazer a indicação com total transparência. O essencial é que a decisão esteja em linha com seus limites pessoais e profissionais.
Em carreira, generosidade e responsabilidade caminham juntas. Ajudar não é omitir ou suavizar a verdade, mas oferecer apoio com integridade. Às vezes, isso significa dar uma segunda chance, mas também pode ser oferecer caminhos alternativos. O importante é que, qualquer que seja sua escolha, ela preserve tanto a sua consciência tranquila quanto a sua credibilidade.
Isis Borge é headhunter, diretora executiva da Talenses e sócia do Talenses Group onde atua com recrutamento executivo e lidera a seleção no C-level para energia e indústria.
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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.
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