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CPMI do INSS se revolta com silêncio de “golden boy”

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A CPMI do INSS realizou nesta segunda-feira (10) a oitiva do empresário Igor Dias Delecrode, de 28 anos, ex-dirigente da Associação de Amparo Social ao Aposentado e Pensionista (Aasap) e apontado por parlamentares como um dos núcleos operacionais do esquema de descontos indevidos em benefícios previdenciários.

Igor Dias Delecrode é suspeito de integrar um grupo apelidado de “golden boys” (meninos de ouro, em português): jovens empresários entre 28 e 45 anos que ascenderam rapidamente no setor de crédito e tecnologia. A suspeita é que tenham se beneficiado de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) firmados com o INSS nos últimos meses do governo Bolsonaro, que possibilitaram descontos automáticos e indevidos na conta de aposentados.

O padrão de vida ostentado — carros esportivos, jatinhos e relógios de luxo — chamou a atenção da Polícia Federal, que já apreendeu uma Ferrari avaliada em mais de R$ 4 milhões. As investigações também buscam mapear vínculos políticos e possíveis doações de campanha.

Relatórios da CGU apresentados à CPMI do INSS revelam que as associações ligadas às empresas de Igor Delecrode teriam arrecadado cerca de R$ 1,4 bilhão, o que demonstra sua centralidade na movimentação financeira da fraude.

No interrogatório, parlamentares se irritaram com o silêncio de Delecrode, que optou por não responder às perguntas após conseguir um habeas corpus, do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para permanecer em silêncio na CPMI. A comissão aprovou, na noite desta segunda, a “apreensão imediata” do celular em posse do depoente.

“A decisão foi tomada diante da gravidade dos fatos apresentados e da necessidade de garantir a integridade das investigações. Esta Comissão tem o dever de buscar a verdade, proteger os aposentados lesados e assegurar que nenhuma prova seja ocultada ou destruída”, disse o presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), nas redes sociais.

No depoimento inicial, Delecrode fez a apresentação formal, se colocou à disposição da comissão, mas passou a palavra para o advogado explicar o exercício do direito ao silêncio. Em seguida, seu advogado exibiu o habeas corpus e reforçou que, por ser investigado, o cliente tem garantia constitucional de permanecer calado.

Questionado pelo relator, Alfredo Gaspar (União–AL), sobre formação em tecnologia da informação, o depoente admitiu apenas ter “hobby”. Mas, ao ser confrontado com a lista de empresas de tecnologia ligadas ao seu nome — Power By, Engajo Soluções, Rinutec, Sank Soluções, EdTech Ltda. e Clint Rab Ltda. — optou por silêncio em todas as respostas, amparado pelo habeas corpus.

“Olha, esse é o silêncio que é um tapa na cara do povo brasileiro. Ninguém aqui está perguntando se ele desviou dinheiro…”, criticou Gaspar, expondo o impasse que atravessou toda a sessão.

O advogado sustentou que, por Delecrode ser investigado por organização criminosa, qualquer confirmação poderia ser usada como elemento incriminador, argumento amparado no habeas corpus. “Qualquer informação, nome, empresa, evidentemente, se é potencialmente incriminador”, disse.

A convocação de Delecrode foi apresentada por Alfredo Gaspar e por parlamentares tanto da oposição quanto da base governista, incluindo Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Kim Kataguiri (União–SP) e Paulo Pimenta (PT–RS). Os requerimentos destacam a necessidade de esclarecer o papel de Delecrode na Aasap e em outras entidades citadas pela imprensa — Amar Brasil Clube de Benefícios, Master Prev e Andapp — todas investigadas por movimentar cerca de R$ 700 milhões em mensalidades descontadas diretamente do benefício de aposentados sem autorização.

A comissão também busca identificar possíveis vínculos societários e operacionais entre ele e dirigentes de outras associações envolvidas: Felipe Macedo Gomes (Amar Brasil), Anderson Cordeiro (Master Prev) e Américo Monte (Andapp). Os parlamentares suspeitam de uma estrutura coordenada, com compartilhamento de serviços, biometria, plataformas tecnológicas e contabilidade cruzada.

“É imprescindível colher o depoimento de Delecrode para que esclareça, entre outras questões, como se deu sua ascensão à direção dessas entidades, quais foram os mecanismos de captação e cobrança de mensalidades, e até que ponto teve conhecimento ou participação nos procedimentos internos contábeis e financeiros dessas organizações. Sua convocação é ainda mais relevante porque indica possível atuação como “testa de ferro” ou intermediário em favor de atores ocultos no esquema”, diz um dos trechos no requerimento de convocação da oitiva.

As conexões políticas também entraram no radar: doações de campanha e proximidade com ex-ministros da gestão Bolsonaro levantaram a suspeita de blindagem institucional. O grupo é hoje foco de investigações da PF e da própria CPMI, que trabalha para mapear a dimensão total do desvio.

Antes da sessão, o senador Izalci Lucas (PL-DF) afirmou à TV Senado que quebras de sigilo e relatórios do Coaf indicam prejuízo que pode chegar a R$ 6 bilhões, com cerca de R$ 700 milhões ligados ao núcleo dos “Golden Boys”. Ele disse que empresas associadas a Delecrode desenvolveram sistemas capazes de falsificar assinaturas e burlar biometria, o que explica o cadastro fraudulento de milhares de aposentados. “Está aí a resposta: um sistema tecnológico que falsificava a assinatura”, disse Izalci.

“Ele é considerado um cérebro tecnológico da organização criminosa dos Golden Boys”, disse o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). O petista afirmou que o investigado operou um sistema capaz de fraudar foto, biometria e assinatura digital, permitindo que uma entidade inscrevesse ilegalmente 117 mil aposentados em um único mês. Segundo ele, a atuação só foi possível por brechas legais criadas no governo Bolsonaro.

Dirigentes da CPMI criticam STF por blindar empresário

Ao iniciar a sessão, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos), afirmou que a decisão “retira a autoridade do Parlamento” e representa “desrespeito do STF”. Ele defendeu que o Senado reaja à concentração de poder no Judiciário: “Um juiz derruba sozinho decisões de 81 senadores e 503 deputados. Isso não pode continuar”, declarou.

Na sequência, o relator Alfredo Gaspar criticou a “blindagem do STF” e acusou a comissão de também proteger investigados, citando nominalmente Gustavo Gaspar, Paulo Bodens, Daniela Miranda Fonteles e Roberta Luxegen. Eles são apontados como integrantes do núcleo de empresários e operadores que lucraram com os descontos indevidos nos benefícios de aposentados. Segundo Gaspar, uma decisão interna do colegiado impediu a convocação deles para depor, apesar das suspeitas de recebimento de mais de R$ 10 milhões provenientes do esquema.  

“A blindagem pela própria comissão é uma vergonha”, disse, alegando que “a República vai balançar” quando vierem à tona as ligações políticas com o chamado “Careca do INSS”. Gaspar também atacou o sigilo de 100 anos sobre visitas registradas em gabinetes no Senado e acusou setores do Congresso de “medo do STF” e “covardia institucional”.

O relator ainda criticou a “justiça dividida” e afirmou que o habeas corpus concedido a Delecrode evidencia desigualdade de tratamento entre investigados ricos e pobres. “Desafio esse mesmo habeas corpus para aquele que chega numa delegacia e senta na frente de um delegado de polícia. O povo não tem esse direito”, afirmou.

O senador também acusou o STF de pouca colaboração e cobrou prisões imediatas de investigados. Até o momento, a CPMI já aprovou pedidos de prisão preventiva para 27 pessoas envolvidas no esquema de fraudes contra aposentados e pensionistas.

Com o encerramento da CPMI previsto para 4 de dezembro, o silêncio de Delecrode ampliou a sensação de impasse político e institucional. Parlamentares avaliam que a comissão só alcançará o núcleo político do esquema por meio de delações premiadas.

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