Quando se fala em menor país do planeta, a resposta imediata costuma ser o Vaticano, território independente que é a sede da Igreja Católica em Roma, na Itália. Mas e se lhe dissessem que, no meio do mar do Norte, a apenas 11 quilômetros da costa inglesa, existe outro “microestado”? Pois é, ele existe – ou, pelo menos, tenta existir. Trata-se do Principado de Sealand, uma curiosa plataforma transformada em território independente em 1967 por um ex-militar britânico e que até hoje é governada por sua família.
Sealand surgiu sobre uma antiga fortaleza marítima chamada Roughs Tower, construída pelo Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial para defender suas rotas navais de ataques da Luftwaffe alemã. Após ser abandonada em 1956, a estrutura ficou à mercê do tempo até que Roy Bates, ex-major do Exército britânico e dono de uma rádio pirata, decidiu ocupá-la e proclamar a “independência” do lugar. “Do mar, a liberdade” (“E mare libertas”, em latim) se tornou o lema oficial do “novo Estado”.
A plataforma, de pouco mais de 400 a 550 metros quadrados, é açoitada constantemente por ventos, mares agitados e corrosão da água salgada. Para a família Bates, manter a ocupação exigia suprimentos enviados de barco e helicóptero, além de reparos permanentes. Ainda assim, o “pequeno país” resistiu e rapidamente adotou símbolos nacionais como bandeira, escudo, hino, moeda própria e até títulos de nobreza.
O “microestado” já até enfrentou momentos de tensão. Em 1968, o filho de Roy, “príncipe” Michael Bates, chegou a disparar contra navios britânicos, episódio que foi levado a julgamento em Londres. O tribunal, contudo, concluiu não ter jurisdição sobre a estrutura, o que foi interpretado pela família Bates como um reconhecimento de fato da independência.
Dez anos depois, em 1978, mercenários holandeses e alemães tentaram tomar Sealand à força, mas foram repelidos em uma operação de contra-ataque liderada pelo próprio “príncipe” Michael. O episódio chegou a envolver “negociações diplomáticas” com a Alemanha.
Mesmo sem nunca ter sido reconhecido oficialmente como uma nação pela comunidade internacional, Sealand acabou ganhando certa notoriedade e se tornou objeto de curiosidade. Essa visibilidade, no entanto, trouxe problemas. Na década de 1990, a emissão de passaportes do principado – inicialmente pensada como forma simbólica de arrecadação e afirmação de soberania – acabou sendo explorada por redes criminosas em vários países. Investigações revelaram que cerca de 150 mil documentos de Sealand circulavam ilegalmente pelo mundo, sendo usados inclusive para abertura de contas bancárias e atividades fraudulentas. O escândalo obrigou a família Bates a revogar todos os passaportes emitidos até então.
Atualmente, a família Bates continua à frente do principado, liderado pelo “príncipe” Michael, que já tem 73 anos. Apesar de reunir milhares de “cidadãos digitais” espalhados pelo mundo – já que ela ainda vende passaportes em seu site, a plataforma em si abriga pouquíssimos moradores. O local é mantido por um pequeno número de residentes fixos – em geral não mais que cinco pessoas ao mesmo tempo – entre eles o zelador Mike Barrington, que atua como responsável pela manutenção diária da estrutura e até como “oficial de imigração e alfândega”.
Os próprios Bates passam parte do tempo em terra firme, deslocando-se para Sealand em visitas regulares.
Sealand busca neste momento espaço no esporte e na cultura popular. Seus times de futebol americano – os Seahawks, no masculino, e as She-Hawks, no feminino – disputam ligas e torneios amadores fora da plataforma, principalmente no Reino Unido e em outros países europeus. Como a estrutura de 400 metros quadrados não comporta partidas, as equipes funcionam como representação simbólica da bandeira do principado, projetando a identidade do autoproclamado “microestado” em competições esportivas internacionais.
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