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Como queda de Maduro pode enfraquecer ditadura de Cuba

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Por meses, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem pressionando o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, com um destacamento militar histórico no Caribe e ações que estão atingindo em cheio a economia já crítica do país sul-americano.

O crescente interesse de Washington na transformação política de Caracas não está afetando apenas o chavismo, mas ameaça um aliado de décadas do movimento liderado pelo falecido general Hugo Chávez que também enfrenta problemas estruturais: Cuba.

A ilha controlada pelo regime de Miguel Diáz-Canel vive uma grave crise, marcada pela contração econômica com uma inflação galopante, além da escassez de bens básicos como alimentos, medicamentos e combustível. Isso tudo enquanto precisa lidar com uma recente epidemia de dengue e chikungunya em meio à deterioração dos serviços públicos educacionais, de saúde e energia.

Nos últimos meses, a ditadura de Cuba vem demonstrando preocupação com as recentes investidas militares dos Estados Unidos na região do Caribe. No dia 25 de novembro, o ministro das Relações Exteriores do país, Bruno Rodríguez, acusou o governo Trump de violar o direito internacional com sua “ameaça agressiva” contra a Venezuela.

Ainda, o representante do regime cubano declarou que a derrubada do ditador Nicolás Maduro seria “extremamente perigosa e irresponsável” devido aos riscos “incalculáveis” de mortes e a criação de um cenário de violência e instabilidade “inimagináveis”.

Antes disso, em outubro, o ex-ditador Raúl Castro, com 94 anos, reapareceu em uma reunião extraordinária do Conselho de Defesa Nacional e reafirmou sua autoridade em meio aos crescentes temores no alto escalão do regime sobre a possibilidade de uma mudança de regime na Venezuela.

Esse claro receio da ditadura de Diáz-Canel com a investida americana é explicado pelos laços históricos entre os países em áreas sensíveis.

Por décadas, Caracas abasteceu Cuba com seu petróleo a um baixo custo. Os carregamentos de combustível da Venezuela, considerados uma tábua de salvação econômica de Havana, agora flutuam drasticamente, chegando a cair de 56 mil barris por dia em 2023 para menos de 10 mil em junho de 2025.

Rússia e México se mostraram dispostos a apoiar o país em sua crise energética vendendo petróleo a preços subsidiados para suprir, pelo menos em parte, o déficit crescente. No entanto, a ajuda desses aliados é praticamente simbólica e não resolve os problemas de longa data da ilha.

Washington espera que esse corte gradual de fornecimento leve ao colapso do regime de Diáz-Canel. A estratégica conta com a participação ativa do secretário de Estado, Marco Rubio, um crítico linha-dura da ditadura cubana que recentemente destacou em uma entrevista ao programa 60 minutes, da CBS, que se os Estados Unidos conseguissem destituir Maduro e cortar o fluxo de petróleo para Havana, “seria o fim de Cuba”.

Ditaduras aliadas: Maduro e Diáz-Canel mantém discursos críticos aos Estados Unidos em meio a investidas perto da Venezuela. Crédito: EFE/ Ernesto Mastrascusa

Para Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais, uma possível queda do ditador Nicolás Maduro não deve derrubar imediatamente o regime em vigor em Cuba, mas irá fragilizá-lo ainda mais.

“Acredito que o líder do regime cubano fique mais fragilizado, apesar de achar que o regime venezuelano não vá interromper seu apoio [à ilha], tanto logístico quanto de alimentos, equipamentos e até um pouco de segurança”, avaliou o especialista.

Segundo Lucena, esse tipo de ação não deve ser imediata, visto que Havana não possui recursos como a Venezuela que chamem atenção dos Estados Unidos. “Cuba não tem equipamentos, não tem petróleo, não possui nada que seja tão útil para o presidente [Donald Trump]”.

Desde a ascensão do general Hugo Chávez e seu movimento, o chavismo, a Venezuela tem sido uma protetora de Cuba, embora a transição de poder após a chegada de Maduro tenha reduzido significativamente essa parceria. Além do elo econômico, os dois regimes de esquerda se apresentaram por décadas como irmãos revolucionários que desafiavam o poder dos Estados Unidos na região.

Em troca do petróleo venezuelano, Havana mantém profissionais da saúde e um número desconhecido de militares e assessores de inteligência que, inclusive, participam da segurança pessoal do ditador Nicolás Maduro. Nesta semana, o The New York Times noticiou que Maduro ampliou o número de guarda-costas cubanos em sua segurança pessoal, desde setembro, e designou mais oficiais do regime aliado envolvidos na área de contraespionagem para atuar em conjunto às forças armadas da Venezuela.

No entanto, com o desgaste dessa aliança, até mesmo essa cooperação parece estar com os dias contados.

A crise na ilha caribenha é tão grave que, mesmo que um eventual ataque dos Estados Unidos na Venezuela resulte em perdas de vidas cubanas, o regime de Diáz-Canel pouco tem a fazer devido aos problemas que enfrenta internamente.

Uma intervenção de Washington na Venezuela e uma eventual sucessão democrática de Maduro possivelmente interromperia o fornecimento de petróleo para Cuba, desferindo outro duro golpe em uma economia cubana já deteriorada e uma população fragilizada.

Um exemplo da gravidade desta crise é que, nesta semana, Cuba sofreu um grande apagão que atingiu cerca de 3,5 milhões de pessoas (cerca de um terço da população do país).

Há, ainda, a possibilidade de uma expansão das ações militares no Caribe, caso haja sucesso no plano de encerrar décadas de ditadura na Venezuela. Com isso, Havana pode se tornar a próxima de uma lista de interesse dos Estados Unidos na América Latina.

Um relatório militar divulgado pelo governo de Donald Trump nesta sexta-feira aponta para essa direção. Washington informou que suas forças armadas devem “reorganizar” a presença militar em todo o mundo e focar em ameaças “urgentes” no hemisfério ocidental.

Lucena avalia que uma eventual queda do regime chavista pode levar os cubanos a refletirem sobre a possibilidade de uma abertura democrática ou, pelo contrário, se fechar ainda mais com receio de que uma intervenção americana ocorra em seu território.

Para o coronel da reserva e analista militar Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, colunista da Gazeta do Povo, é muito cedo para prever uma ampliação da operação Lança do Sul na região e medidas mais diretas contra Cuba.

Por outro lado, o analista levantou a hipótese de uma expansão das operações militares em um país vizinho na América do Sul.

“Acredito que os Estados Unidos devem manter a postura de atingir Cuba com severas sanções. Por outro lado, em relação à Colômbia, é possível imaginar que Trump aumente a pressão sob o governo de Gustavo Petro”.

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