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Bolsonaro faz 100 dias de prisão domiciliar perto de ir para presídio

Jair Bolsonaro (PL) completa nesta terça-feira (11) 100 dias em prisão domiciliar, enquanto aguarda a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) para o início do cumprimento de sua pena de 27 anos e três meses em regime fechado.

Desde 4 de agosto, quando foi trancado em casa, o ex-presidente segue isolado do público e tem os contatos externos rigidamente controlados. O confinamento conteve a sua destacada influência sobre a direita e ainda ensejou divisões internas entre os aliados.

Diante da virtual certeza de que Jair Bolsonaro será encarcerado até o fim do mês, apesar dos apelos da defesa que alerta para os riscos à sua saúde, atores do campo conservador buscam se reposicionar entre o cálculo eleitoral e as pressões por demonstrações públicas de fidelidade ao ex-presidente.

Nesse ambiente, os focos mais evidentes de tensionamento se concentram nos filhos Eduardo, deputado, e Carlos, vereador, que personificam disputas em torno da preservação do protagonismo político da família Bolsonaro. Enquanto isso, a pauta da segurança pública tende a concentrar os esforços legislativos e eleitorais da direita.

Parlamentares denunciam o marco de 100 dias de prisão como censura à oposição

Ao atingir 100 dias de prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica, restrição de contatos e bloqueio de redes sociais, Jair Bolsonaro tornou-se símbolo, para aliados, de vítima do “ativismo judicial” e da perseguição política. Deputados da oposição protestaram no Congresso contra o que chamam de cerceamento das liberdades e ataque à democracia.

O vice-líder Sanderson (PL-RS) classificou a medida como afronta à vontade popular. Rodrigo Valadares (União-SE) disse que “não é Bolsonaro que está preso, e sim a liberdade de expressão e o voto de 58 milhões de brasileiros”. Já Coronel Tadeu (PL-SP) afirmou que calar o ex-presidente é tentar “calar a voz do povo”.

Para o deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM), a detenção é um instrumento de intimidação política. Rodolfo Nogueira (PL-MS), por sua vez, considerou o fato uma “injustiça”, e o General Pazuello (PL-RJ) declarou que “Bolsonaro segue censurado e isolado, tratado como inimigo de Estado, enquanto corruptos são poupados”.

Impacto na candidatura presidencial de Tarcísio e em nomes para o Senado

Para especialistas, o afastamento de Bolsonaro do debate nacional e a interrupção de seu diálogo com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, golpearam sua liderança, desarticularam estratégias para as eleições de 2026 e acirraram brigas internas no campo conservador.

Os fatos mais evidentes desse quadro estão na construção da candidatura presidencial do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e no impasse em torno da escolha dos nomes do PL em Santa Catarina para disputar o Senado.

A insistência de Eduardo Bolsonaro em se apresentar como presidenciável e em atacar Tarcísio de Freitas — visto como o nome viável para representar uma frente ampla de direita e centro-direita — tem produzido efeitos negativos até nas paralisadas negociações sobre a anistia no Congresso.

Em paralelo, a decisão de Jair Bolsonaro de escolher Carlos como um dos dois candidatos combinados da direita catarinense ao Senado expôs o risco de contestação à sua autoridade e ampliou as fissuras internas desse grupo.

Analistas desenham impactos da transferência de Bolsonaro para a Papuda

Para o cientista político Ismael Almeida, o sentimento predominante entre os apoiadores de Jair Bolsonaro no mundo político após sua transferência para o Presídio da Papuda não será o da resignação.

“O começo será a da percepção de impotência diante do fato, o que pode gerar resignação em um momento posterior, a partir de novos desdobramentos”, observa. Ele entende que, de toda forma, o ex-presidente não perderá a condição de mais influente eleitor em 2026, com o seu apoio sendo já muito disputado.

Já Adriano Cerqueira, professor de ciências políticas do Ibmec-BH, avalia que a decisão de Moraes pelo início do cumprimento da pena de Bolsonaro no presídio mais próximo de sua residência deverá provocar duras reações de setores conservadores.

“Mas se o ex-presidente puder continuar em prisão domiciliar ou ser levado para uma sala especial, o comportamento deve ser mais próximo da resignação”, diz. Até o ex-ministro José Dirceu, um dos maiores líderes da esquerda, critica a ida de Bolsonaro para a Papuda.

Encarceramento próximo de Bolsonaro desperta sensação de impotência

O processo conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que levou à prisão iminente de Bolsonaro por suposta trama golpista, foi julgado em tempo recorde pelos cinco integrantes da Primeira Turma da Corte. A Ação Penal 2668 teve denúncia formal aceita em 26 de março e a condenação veio já em 11 de setembro. Ao todo, se passaram só cinco meses e 16 dias.

No último dia 7, a Primeira Turma rejeitou, por unanimidade, os recursos apresentados pela defesa do ex-presidente e manteve a sua condenação.

Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal, enviou ofício ao ministro Moraes pedindo que o ex-presidente passe por avaliação médica, de forma a verificar suas condições de saúde para permanecer no sistema prisional de Brasília.

Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara, não crê em sucesso da tentativa de manter Bolsonaro em prisão domiciliar ou encaminhá-lo para local que não seja presídio, como cela na Polícia Federal ou quartel militar. “Moraes quer a foto de Bolsonaro na Papuda”, explica.

Recursos da defesa de Bolsonaro se esgotam e acelera perspectiva de prisão

Com a rejeição do recurso na Primeira Turma, o processo entra na reta final. Agora, o relator poderá determinar o início da execução da pena se considerar que o próximo recurso ainda cabível é protelatório, ou seja, ineficaz para alterar a sentença e apresentado tão somente para prolongar o processo.

Nesse ponto, caberá a Moraes definir o local onde Bolsonaro deverá ficar preso. A defesa ainda pode tentar embargos infringentes (o apelo por reexame de decisão não unânime) ou recursos a instâncias internacionais. De todo jeito, nenhuma dessas medidas tem efeito suspensivo automático.

A partir de agora, o caso passa a depender só de questões formais para a decretação da prisão definitiva, marco que encerrará o capítulo judicial mais grave enfrentado por um ex-presidente desde a redemocratização.

Analistas acreditam que Moraes até poderá conceder a prisão domiciliar, mas não antes de Bolsonaro dar entrada no sistema prisional. Com isso, os protestos da oposição, de advogados e até do governo dos Estados Unidos foram incapazes de mudar a perspectiva inicial de seu encarceramento.  

Embates públicos entre celebridades do PL revela agravamento das tensões

As deputadas do PL Júlia Zanatta (federal) e Ana Campagnolo (estadual) travaram tensa discussão na última sexta-feira (7) em transmissão ao vivo nas redes sociais que expôs divisões internas do PL em Santa Catarina.

A live debateria os rumos da legenda nas eleições — sobretudo para o Senado —, mas acabou se tornando um embate pessoal. O estopim veio do comentário de Ana segundo o qual a prisão de Bolsonaro deve-se a erros de estratégia. Júlia reagiu, contrapondo perseguição judicial contra o líder.

Eduardo Bolsonaro seguiu protagonizando críticas a nomes de destaque do PL, como o colega Nikolas Ferreira (MG), voltando a acusá-lo de liderar uma dissidência dentro da direita, “querendo se livrar de Jair Bolsonaro de vez”. O deputado mineiro evitou o revide e apenas publicou imagens suas ao lado do ex-presidente, a quem chama de seu candidato ao Palácio do Planalto.

Eduardo ainda bateu boca nas redes sociais com o governador Mauro Mendes (União-MT). O conflito começou após Mendes afirmar que o deputado “está louco”. Em resposta, Eduardo publicou vídeo onde acusa Mendes de “frouxidão” e de usar o discurso de fidelidade a Bolsonaro só como fachada, sem agir de fato em apoio ao ex-presidente.

Chamado de “candidato do sistema”, Tarcísio enaltece gratidão a Bolsonaro

Dias depois ser chamado por Eduardo Bolsonaro de “candidato do sistema”, por receber apoios de caciques do centro, Tarcísio afirmou em discurso que a sua gratidão a Jair Bolsonaro “não prescreve nunca”, em referência à relação que mantém com o seu padrinho político. Nos bastidores, verifica-se retomada da articulação do governador pela disputa presidencial.

Enquanto isso, líderes do PL, como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o governador de Santa Catarina, Jorginho Melo, reforçam o discurso padrão de que Jair Bolsonaro é o único candidato da direita, apostando em uma reviravolta no cenário judicial e político ainda em tempo de impactar a corrida presidencial.

Michelle ainda mostrou-se “fechada” com a deputada Caroline de Toni, que disputa com Carlos Bolsonaro a indicação para o Senado, confrontando com a posição dos filhos do ex-presidente.

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