Na noite de sexta-feira (19), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na rede Truth Social mais um ataque militar contra uma embarcação com drogas na área do Comando Sul americano (Southcom).
O mandatário republicano afirmou que três narcotraficantes a bordo foram mortos e que a embarcação estava em águas internacionais.
Os Estados Unidos enviaram no final de agosto oito navios de guerra e um submarino nuclear para as águas do Mar do Caribe próximas da Venezuela, com o objetivo de evitar a chegada de drogas ao território americano, operação que a ditadura venezuelana considera uma “desculpa” para uma intervenção militar no país sul-americano.
Desde então, além do registrado na sexta-feira, Trump também anunciou no dia 2 de setembro um ataque a uma embarcação que seria da gangue venezuelana Tren de Aragua, no qual 11 pessoas a bordo foram mortas, e outro no dia 15, contra “narcoterroristas confirmados da Venezuela”, dos quais três foram mortos.
Entre o segundo e o terceiro ataques divulgados na Truth Social, o presidente americano havia informado durante uma entrevista coletiva que outra embarcação havia sido atingida, mas sem dar maiores detalhes.
No post sobre o ataque de sexta-feira, Trump não citou a Venezuela, apenas informou que a embarcação estava “associada a uma organização terrorista designada”. Nos três casos divulgados na Truth Social, o presidente americano enfatizou que os ataques ocorreram em águas internacionais.
Tal ofensiva tem gerado um debate sobre a legalidade desses ataques. O governo Trump alega que o objetivo é evitar que americanos sejam mortos com drogas traficadas para o território dos Estados Unidos e se baseia em designações que aplicou a grupos criminosos transnacionais envolvidos com o narcotráfico, entre eles o Tren de Aragua e o também venezuelano Cartel de Los Soles, como organizações terroristas.
Na quinta-feira (18), a ONG Human Rights Watch (HRW) divulgou um comunicado chamando os ataques militares dos Estados Unidos contra barcos transportando drogas como “execuções extrajudiciais ilegais”.
A HRW alegou que nesses ataques “as autoridades americanas não fizeram nenhum esforço para minimizar os danos e não procuraram demonstrar que os indivíduos a bordo das embarcações representavam qualquer ameaça iminente à vida [de outros]. Alternativas não letais – como interdição ou prisão – também não foram tentadas”.
“O direito internacional humanitário, que rege a condução das hostilidades durante conflitos armados, não se aplica neste contexto. Os EUA não estão envolvidos em um conflito armado com a Venezuela ou com os supostos grupos criminosos envolvidos”, afirmou a ONG.
Na terça-feira (16), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos também condenou os ataques.
“O direito internacional não permite que governos simplesmente assassinem supostos traficantes de drogas”, disse o comissariado, em nota. “Atividades criminosas devem ser interrompidas, investigadas e processadas de acordo com o Estado de Direito, inclusive por meio da cooperação internacional.”
“O ataque dos Estados Unidos também viola o Direito Internacional do Mar, que não autoriza ataques não provocados a navios, exige o cumprimento de critérios para interceptar navios e insiste em uma abordagem policial, e não militar, para o uso da força”, acrescentou o órgão da ONU.
O governo Trump vem desconsiderando questionamentos sobre a operação. Em uma entrevista coletiva na Cidade do México após o primeiro ataque, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse que a ofensiva militar é o melhor jeito de evitar a chegada de drogas aos Estados Unidos.
“Os Estados Unidos há muito tempo, por muitos e muitos anos, reuniram informações que nos permitiram interditar e deter barcos com drogas. E nós fizemos isso. E não funciona. Interdição não funciona”, disse Rubio na ocasião. “O que vai detê-los é você explodi-los, é se livrar deles.”
O vice-presidente J.D. Vance foi ainda mais incisivo na defesa desses ataques. A princípio, ele escreveu no X: “Matar membros de cartéis que envenenam nossos concidadãos é o melhor e mais elevado uso de nossas Forças Armadas”.
Em seguida, o influencer e podcaster Brian Krassenstein, crítico da gestão Trump, afirmou a Vance que “matar cidadãos de outra nação que são civis sem o devido processo legal é chamado de crime de guerra”.
O vice-presidente respondeu: “Estou c* para como você chama”.
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