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Análise: BC prepara terreno para reduzir juros, sem pressa | Finanças

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Não há dúvida: a mensagem explícita do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central é de manutenção dos juros altos por período bastante prolongado. Mas, na ata divulgada hoje, o colegiado segue se desfazendo de amarras que poderiam segurar o corte de juros, quando chegar a hora certa.

Na semana passada, em seu comunicado, o Copom suavizou as ameaças de subir ainda mais os juros, para além dos 15% ao ano atuais – e isso tornou a direção dos juros menos simétrica. Na ocasião, reconheceu finalmente que a dose é suficiente. Um desdobramento disso é que, quando mexer, o mais provável é que a Selic vá para baixo.

Hoje, na ata, o Copom procura desmontar o vínculo forte que alguns participantes do mercado faziam entre expectativas de inflação e juros. E também incorporou às suas projeções o impacto do projeto que isenta o Imposto de Renda, suavizando um risco altista para a inflação, que agora passa a ser precificado no cenário básico.

Talvez a mais importante novidade na ata tenha sido o Copom admitir, finalmente, que as expectativas de inflação “seguiram em trajetória de declínio” e que “observou-se movimento agora mais nítido em horizontes além do relevante”.

Quem lê apenas a ata divulgada nesta terça fica com a impressão, falsa, de que o Copom já via um processo (algo mais perene) de melhora nas expectativas. Na verdade, até setembro, o comitê falava em “incipiente movimento de queda nas expectativas”, concentrado nos horizontes mais curtos.

Quando diz que as expectativas “seguiram trajetória de declínio”, portanto, de certa forma o Copom está fazendo uma revisão de como enxergava o passado – afinal, só pode ter seguimento o que já acontecia antes.

Nesse mesmo parágrafo, o Copom dava um peso especial, até setembro, às expectativas para tornar o cenário inflacionário “adverso”. Agora, cita apenas como um dos fatores, ao lado da resiliência na atividade econômica, das pressões no mercado de trabalho e das projeções de inflação elevadas.

Esse peso especial às expectativas de inflação no cenário inflacionário adverso criava, na cabeça de participantes do mercado, uma espécie de vínculo automático desse fator com os juros altos por período prolongado.

Esse vínculo automático, de certa forma, era provocado pelo BC, que até setembro dizia na parte da ata que trata mais diretamente da sua decisão de política monetária: “Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.

O Banco Central eliminou, nesse trecho da ata, essa mensagem que dava ideia de um vínculo automático. Mas não se deve enganar: a ancoragem das expectativas de inflação segue muito importante na estratégia de política monetária – o que parece mudar é a ideia de que possa ser um gatilho ou uma trava automática.

A importância é dada pelo fato de que, nas discussões de política monetária, os membros do Copom compartilham a visão de que, em um ambiente com expectativas desancoradas, “como é o caso atual”, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado.

Ou seja: a decisão sobre quando cortar os juros dependerá da evolução dos dados econômicos, e aparentemente as expectativas de inflação não são um gatilho ou trava – devem ser vistas dentro de uma avaliação conjunta do cenário inflacionário.

Outra novidade da ata foi o BC ter incorporado, às suas projeções, o impacto inflacionário do corte do Imposto de Renda. Isso, provavelmente, era considerado até então um risco que poderia fazer a projeção oficial de inflação ficar ainda mais alta.

O BC mira atualmente colocar a inflação em 3% nos 12 meses até junho de 2027. Essa projeção de inflação, deve-se registrar, caiu de setembro para cá, de 3,4% para 3,3%, mas segue acima da meta de inflação, que foi definida em 3%.

Esse dado resume o quadro ainda incerto sobre quando poderá haver o primeiro corte de juros: houve melhora, mas insuficiente.

Na ata, repetindo o que disse no comunicado, o Copom também descreve uma atividade econômica que está em “trajetória de moderação”, e não apenas apresenta “certa moderação”, como dito em setembro. No caso da inflação de serviços, disse pela primeira vez que apresentou “algum arrefecimento”. Mas, nos dois casos, ainda não chegou ao ponto.

Esse trabalho ainda incompleto – incluindo nas expectativas de inflação – é o que faz o Copom se mover em câmera lenta para um corte de juros. Até agora, o que tem feito é basicamente tirar barreiras que segurariam um eventual afrouxamento monetário, quando o momento chegar, mas sem abandonar a mensagem de “perseverança, firmeza e serenidade”.

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