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A parcela mais rica da geração Z é a única que busca propósito no trabalho, diz pesquisa | Carreira

Diferente do que se espera com base nas últimas pesquisas relacionadas à geração Z, os jovens periféricos brasileiros não acreditam no trabalho como fonte de propósito, avalia a consultoria Santo Caos, em pesquisa realizada com 1.929 jovens de todos os estados brasileiros pertencentes às classes CDE.

Ao contrário dos mais abastados, pessoas de 15 a 29 anos com renda domiciliar mensal de 1 a 10 salários mínimos são mais pragmáticas e buscam ascensão social individual com o trabalho, garantindo seu consumo, entretenimento e buscando um futuro mais estável. Além disso, demonstram compromisso com o bem-estar familiar.

A Santo Caos levantou quais são os tipos de trabalho mais buscados pelos respondentes. Destacam-se vagas administrativas (63%), operacionais (17%), empreendedorismo (11%) e empregos informais ou autônomos (9%).

A maioria dos jovens também alega sair do ensino médio sem preparo, tendo em vista que o foco escolar é a entrada na universidade e estes avançam direto para o mercado de trabalho. Essa preparação, portanto, acaba acontecendo através das instituições de apoio. A família e a internet também fazem parte do processo de aprendizagem após a saída do colégio, mas ocupam um papel secundário.

Em oposição ao que se apresenta nas redes sociais, os jovens das classes CDE não desdenham da CLT e objetivam, em sua maioria, conquistá-la. Além do mais, 59% dos respondentes estão inseguros em relação ao seu futuro.

Antes mesmo da maioridade, três quartos dos respondentes já trabalhavam formalmente, diz pesquisa da Santo Caos — Foto: Burst

Os entrevistados também já se sentiram pressionados a aceitar situações abusivas para manter seu emprego (40%) e, não à toa, sentir-se respeitado é a terceira principal motivação dos jovens das classes CDE ao avaliarem uma vaga. Eles ainda afirmam sentirem-se intimidados por ambientes corporativos, onde imaginam ser menos respeitados. Os jovens afirmam que as discriminações ocorrem por conta de fatores como o lugar onde moram (47%), do cargo (44%) e da idade (50%).

Antes mesmo da maioridade, três quartos dos respondentes já trabalhavam formalmente e 35% acreditam que, com dedicação, podem alcançar as mesmas oportunidades dos mais ricos, independentemente da origem. Embora os entrevistados declarem valorizar o trabalho, sentimentos como “exaustão”, “tristeza”, “ansiedade” e “desgaste psicológico” estão envolvidos; especialmente quando o trabalho é mal remunerado ou desvalorizado.

Para Jean Soldatelli, sócio-diretor da Santo Caos, estamos generalizando a percepção do que os jovens pensam — sem levar em conta o recorte de classe. “E aí, preconceitos que já existem sobre essa geração acabam se amplificando com preconceitos de classe”, lamenta.

O objetivo do estudo, ainda em concordância com Soldatelli, foi retirar esses estigmas. “Ao passo que jovens de classe AB podem escolher a carreira e levar em conta o propósito — seja um sonho individual ou uma contribuição para a sociedade —, os jovens das classes CDE não têm essa escolha”, detalha. O especialista complementa que os pesquisados também sonham, entretanto, seus sonhos são muito mais impactados pela realidade. “Dentro das suas priorizações na escolha de um trabalho, a lógica do propósito aparece muito depois”, acrescenta.

Outra grande diferença levantada pelo executivo da Santo Caos é na capacitação dos jovens. “A pessoa de classe CDE vai aprendendo à medida que vai executando o trabalho”, diz. Na observação do diretor, o jovem da classe AB, por outro lado, realiza cursos voltados para a carreira que deseja.

“Assim, o jovem periférico fica quase refém da carreira na qual iniciou. […] Quando se sonha a partir da própria realidade, sendo muito pragmático, é difícil sair do patamar em que já se está”, diz. O responsável pela pesquisa também destaca que buscar oportunidades às quais não se tem contato é muito difícil e, por essa razão, torna-se comum ver pessoas de classe média-baixa atuando em funções semelhantes às das pessoas ao seu redor.

O desrespeito foi apontado na pesquisa como fator de impacto para a juventude das classes CDE inserida no mercado de trabalho. Soldatelli reforça que a transgressão pode se manifestar travestida de feedbacks, como ao serem criticadas as roupas de alguém, por exemplo. “Em alguns ambientes corporativos, há uma vergonha, inclusive, da marca da roupa que você está usando”, diz o pesquisador com base nos relatos dos respondentes.

“A gente ouviu de um entrevistado que o apelido dele no escritório virou ‘marmita’, porque era o único que levava marmita ali dentro”, relata. O sócio da Santo Caos acrescenta que a juventude das classes CDE é alvo de atos disciplinadores que minam sua autoconfiança, senso crítico e sua autopercepção. “Quando um jovem da Cidade Tiradentes consegue ser estagiário em uma empresa da Faria Lima, ele não é abraçado automaticamente: precisa se adaptar. Para um jovem de classe média ou alta, isso tende a ser mais natural”, exemplifica.

Outro ponto aprofundado pelo executivo é a influência dos coaches que discursam sobre empreendedorismo nas redes sociais para as classes CDE. “Quando nos deparamos com o dado de que apenas 11% deles têm o desejo de empreender, vemos que a realidade e o discurso mais motivacional desses coaches acabam batendo numa parede”, diz.

O especialista desenvolve que essa juventude enxerga no seu entorno empreendedores como o vendedor de pipoca e a dona de uma “lojinha”, realidade que difere dos discursos, além de possuírem um salário médio que pode não ser suficiente para garantir uma vida estável.

“Me lembro de um jovem da periferia de Minas Gerais que falou: ‘Ah, quando eu vou numa tentativa de emprego e vejo que tem uma menina loira na mesma dinâmica que eu, já sei que vou perder.’”, compartilha Soldatelli sobre uma entrevistada que o marcou. O diretor da Santo Caos finaliza com a opinião de que as pessoas das classes CDE são mais céticas em relação ao trabalho e estão cientes das desvantagens que podem ter em relação aos colegas vindos de outras realidades.

Por outro lado, 58% dos jovens deixariam seu primeiro emprego mais cedo por condições de trabalho desgastantes, afirma pesquisa da SKEMA Business School (Brasil) — que entrevistou 842 estudantes de graduação ou mestrado. O recorte dos mais privilegiados também revela que para 64% deles, a principal característica de um bom ambiente de trabalho é a possibilidade de trocar ideias livremente.

Além disso, quase a totalidade dos graduandos entrevistados (96%) colocam o desenvolvimento de carreira como o principal critério na escolha de um emprego e metade deles considera o aumento de salário como um fator-chave para manterem-se leais.

Na percepção de Gustavo Hoffmann, diretor da SKEMA Business School no Brasil, o ambiente organizacional e o bem-estar não são meros detalhes, mas fatores decisivos para a permanência destes jovens. Ele também compreende que os dados reforçam a necessidade de uma cultura de diálogo, respeito e colaboração. “Os jovens querem crescer, aprender e enxergar perspectivas claras de evolução. O ambiente que não favorece esse desenvolvimento é para eles a principal razão para pedir demissão”, encerra.

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