Localizada em uma área isolada da província costeira de Santa Elena, a nova prisão de segurança máxima do Equador – um dos principais projetos de infraestrutura prometidos pelo presidente Daniel Noboa, que aspira replicar o modelo do presidente de El Salvador, Nayib Bukele – recebeu seus primeiros 300 detentos nesta segunda-feira (10), um grupo classificado como altamente perigoso, incluindo o ex-vice-presidente Jorge Glas, um apoiador do ex-presidente esquerdista Rafael Correa condenado por corrupção.

A transferência dos prisioneiros ocorreu apenas um dia depois de 31 detentos terem sido mortos em um confronto entre membros de duas gangues criminosas rivais dentro da prisão de Machala. O governo atribuiu o massacre a essa movimentação prisional.

A chegada dos presos à nova prisão também coincidiu com o início de uma semana crucial em que Noboa está arriscando seu capital político com um referendo que convocou para estabelecer uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova constituição, entre outras reformas, como o estabelecimento de bases militares estrangeiras no país.

Esta prisão, com capacidade para 736 detentos, foi uma das grandes promessas de Noboa quando chegou ao poder em 2023.

A construção começou em junho de 2024 com um orçamento de US$ 52 milhões e a obra foi realizada pela empresa Puentes y Calzadas Infraestructuras, uma subsidiária do grupo espanhol Puentes, que controla a empresa estatal China Road and Bridge Corporation.

Batizada por Noboa como “Prisão do Encontro”, em referência ao slogan do governo do ex-presidente Guillermo Lasso (2021-2023), que foi substituído pelo atual presidente, esta prisão está localizada em uma área inóspita da província costeira de Santa Elena, uma das mais afetadas pelo crime e pela violência que assolam o país há anos.

A prisão foi promovida por Noboa como resposta à crise de violência que assola o sistema prisional equatoriano nos últimos anos, onde mais de 600 detentos foram mortos desde 2021, a maioria em uma série de massacres devido a confrontos entre gangues rivais como Los Choneros, Los Lobos e Los Lagartos, entre outras.

Segundo o Ministro do Interior, John Reimberg, a prisão possui “todas as medidas tecnológicas” para garantir que “nenhum dispositivo além dos que deveriam existir dentro desta prisão possa entrar”, além de ter “tudo o que é necessário para atendimento médico” para evitar que os presos precisem ir a hospitais.

Espera-se também que o governo contrate militares e policiais aposentados para ficarem responsáveis ​​pela segurança dos presos, em vez de agentes do Serviço Nacional de Atendimento Integral a Pessoas Privadas de Liberdade (SNAI), o órgão executivo encarregado da administração e guarda das prisões.

A grande maioria das prisões no Equador foi militarizada desde janeiro de 2024, quando o presidente Daniel Noboa declarou um “conflito armado interno” para combater a violência no país, que atravessa a pior crise de sua história recente, a ponto de ter a maior taxa de homicídios da América Latina.