O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou nesta quinta (23) os ataques ao seu homólogo norte-americano, Donald Trump, com quem deve se encontrar no próximo final de semana. As novas críticas foram feitas durante a viagem que faz a Jacarta, na Indonésia, em meio a uma agenda de aproximação bilateral entre os dois países.

A visita à Indonésia é uma escala antes de viajar para a Malásia, onde participará com Trump de uma reunião de cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que será realizada entre os dias 26 e 28 de outubro. Fontes do Ministério das Relações Exteriores confirmaram à Gazeta do Povo que equipes da diplomacia trabalham por um encontro entre os dois presidentes.

“Indonésia e Brasil não querem uma segunda Guerra Fria. Nós queremos multilateralismo e não unilateralismo. Nós queremos democracia comercial e não protecionismo. E, mais ainda, tanto a Indonésia quanto o Brasil têm interesse em discutir a possibilidade de comercialização entre nós dois ser com as nossas moedas”, disse Lula em discurso.

A defesa pelo uso de moedas próprias para negociações comerciais em detrimento do dólar é vista negativamente por Trump, que já ameaçou uma alta taxação aos países que aderirem. Lula ainda pediu “coragem” para que os países não sejam dependentes de outras economias – mas, sem citar os Estados Unidos.

“Essa é uma coisa que nós precisamos mudar. O século 21 exige que tenhamos a coragem que não tivemos no século 20. Exige que a gente mude alguma forma de agirmos comercialmente para não ficarmos dependentes de ninguém”, pontuou.

Mesmo mantendo o tom diplomático em alguns momentos, Lula fez questão de reforçar a mensagem política que tem repetido em suas viagens internacionais de soberania dos países e não interferências externas.

“Indonésia e Brasil compartilham o compromisso com a paz, com o desenvolvimento sustentável e com a promoção de uma ordem internacional mais justa”, declarou.

Informações de bastidores a par das negociações apontam que o encontro de Lula e Trump pode ocorrer no domingo (26), e que a conversa será centrada em questões comerciais – entre elas a taxação de 50% dos Estados Unidos aos produtos brasileiros exportados para lá.

A diplomacia brasileira pretende retirar a sobretaxa de 40% imposta pelo governo norte-americano referente a sanções por questões políticas envolvendo o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Já os 10% restantes se referem à taxação linear imposta por Trump a todos os países do mundo.

Negociadores adotaram um tom de cautela sobre o encontro por ainda não haver uma confirmação oficial da Casa Branca. Na semana passada, o ministro Mauro Vieira também afirmou que uma audiência de Lula e Trump poderia ser realizada durante essa viagem à Malásia – a possibilidade foi levantada após uma reunião de trabalho com o secretário do Departamento de Estado norte-americano, Marco Rubio.