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Pedro Urruchurtu, braço direito de María Corina

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Um dos alicerces políticos e estratégicos de María Corina Machado, Pedro Urruchurtu é o responsável pela articulação internacional da líder venezuelana vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025 e pela formação política do partido Vente Venezuela, movimento liberal que se tornou o principal símbolo de resistência ao regime de Nicolás Maduro.

Aos 35 anos, o venezuelano é o atual diretor de Relações Internacionais do Vente Venezuela, partido fundado e liderado por Machado. Com formação em ciência política e uma longa trajetória na defesa da democracia venezuelana, ele se consolidou como um dos principais articuladores internacionais da oposição, exercendo um papel de ponte entre Caracas e os governos democráticos do Ocidente.

Reconhecido por seu perfil técnico, disciplinado e profundamente convicto da causa da liberdade, Pedro foi um dos estrategistas da campanha presidencial de Machado, marcada pela mobilização cívica de 2024, que desafiou as bases do autoritarismo chavista. Durante mais de 400 dias, viveu confinado na embaixada da Argentina em Caracas, sob vigilância do regime, após ser alvo de perseguição política — experiência que reforçou sua imagem de resistência e lealdade à causa democrática.

O Vente Venezuela, movimento que representa a corrente liberal do país, distingue-se por rejeitar o socialismo e por propor um modelo de reconstrução nacional baseado na economia de mercado, nas liberdades individuais e no Estado de Direito. Pedro Urruchurtu concedeu uma entrevista à Gazeta do Povo poucos dias após o anúncio do Nobel concedido a María Corina Machado — um prêmio que, além de consagrar sua liderança moral, recolocou a luta pela liberdade da Venezuela no centro da agenda internacional.

Nesta conversa exclusiva, Urruchurtu fala sobre o significado histórico desse reconhecimento, os bastidores de sua fuga do regime e o papel que líderes como Donald Trump, Marco Rubio e Javier Milei desempenham na articulação de uma frente democrática continental contra o socialismo latino-americano. Confira:

Gazeta do Povo – Qual foi sua reação pessoal ao saber que María Corina Machado havia recebido o Prêmio Nobel da Paz? Que significado esse reconhecimento tem para o Vente Venezuela e para os milhões de venezuelanos que continuam lutando contra o autoritarismo?

Pedro Urruchurtu – Foi uma grande surpresa. A verdade é que ninguém esperava por isso. Embora seja certo que María Corina tenha sido reconhecida por várias organizações ao redor do mundo pela mobilização cidadã dos últimos dois anos — e, obviamente, pelos seus vinte e seis anos de luta no total —, não esperávamos que algo assim acontecesse. Foi totalmente inesperado. Talvez porque estamos sempre pensando no que ainda falta fazer — na tarefa pendente de alcançar a liberdade da Venezuela — e não paramos para pensar em reconhecimentos. Mas foi muito emocionante; aquela sexta-feira foi um dia profundamente comovente. Acho que todos choramos; o dia inteiro foi de lágrimas contidas.
Esse prêmio tem um significado enorme. Como ela mesma disse, é um reconhecimento ao país inteiro, à luta, ao sacrifício — e é, essencialmente, um impulso, uma injeção de força e energia para o desfecho final: o impulso derradeiro para conquistar a liberdade. Porque não haverá paz sem liberdade na Venezuela. Por isso, esse reconhecimento [o Nobel] é também um ato de justiça e um bálsamo diante de tanta dor e sofrimento.
E, acima de tudo, permite que nos reconheçamos pelo que já conquistamos — não apenas pelo que ainda falta. É um prêmio para todos os venezuelanos, do qual devemos nos orgulhar. Representa, em si mesmo, uma plataforma para defender a verdade.

O senhor acredita que o Nobel aumenta a pressão internacional sobre Nicolás Maduro — ou teme que o regime responda com ainda mais repressão, transformando uma vitória simbólica em uma nova perseguição política?
Sem dúvida, o Prêmio Nobel da Paz representa uma proteção para María Corina e também para todo o movimento democrático. Confere um escudo adicional pelo simbolismo e significado que carrega — e, ao mesmo tempo, alerta o mundo, porque recoloca o tema da Venezuela com mais força na agenda global.

O tema “Venezuela” voltou à agenda internacional graças a esse prêmio; ele gera maior atenção e eleva o custo de qualquer ação repressiva do regime. Isso não quer dizer que um regime criminoso — que pratica terrorismo de Estado — vá deixar de cometer seus crimes, mas que agora isso lhes sairá mais caro.
De fato, a resposta imediata da ditadura foi fechar o consulado da Venezuela na Noruega, entre outras medidas. No entanto, dentro do país reinou o silêncio imposto pelo medo: muitos jornalistas foram punidos por noticiar o fato, e os meios de comunicação não se atreveram a celebrá-lo. Foi um momento de alegria, mas de um júbilo contido. Amigos na Venezuela me escreviam felizes pelo reconhecimento, mas sem poder dizer nada publicamente por medo. Esse terrorismo de Estado demonstra, precisamente, por que esse prêmio é tão importante como motor e impulso da nossa luta.

O senhor passou mais de 400 dias confinado na embaixada argentina em Caracas, sob vigilância do regime. Como foi viver esse período — mental, espiritual e fisicamente — e o que aprendeu sobre resistência e fé diante da perseguição?

Foram mais de 400 dias muito duros, mas também muito importantes para nós. O mais relevante desse processo foi a decisão que tomamos: resistir e trabalhar.
Durante mais da metade do tempo estivemos focados na campanha, porque entendemos que, enquanto lá fora perseguiam e encarceravam nossos companheiros, dentro da embaixada — ainda em meio à vulnerabilidade — tínhamos uma oportunidade de agir.
Por ser um recinto diplomático, estávamos relativamente protegidos, e decidimos conduzir a campanha a partir dali. Grande parte do comando estava dentro: a equipe de comunicação, a eleitoral, a política, a direção da campanha e a área internacional.
Optamos por resistir, mesmo com o desgaste, o isolamento, a falta de serviços essenciais, a escuridão absoluta, a proibição de visitas e as ameaças constantes: armas apontadas, vigilância das embaixadas da Rússia e da Coreia, homens armados na casa vizinha… Era uma tensão permanente.

Mas mantivemos a convicção de que não nos quebrariam. Mesmo que chegássemos a morrer ali, sem comida ou suprimentos, não nos renderíamos. A decisão era resistir.
Aprendi que, ainda que você seja um refém, se sua mente e seu espírito forem livres, você é livre — e, de certo modo, as privações não importam. A fé, a rotina e a esperança tornam-se refúgios. Também a busca de soluções. Quando finalmente decidimos escapar, foi porque preferimos correr o risco de morrer fugindo à certeza de morrer presos. Saímos mais fortes, mais comprometidos e dispostos a lutar como nunca, porque essa é nossa única opção.

A Venezuela já é um país invadido pelo crime e por atores extrarregionais. Libertá-la exigirá força interna e externa, porque um regime que se sustenta apenas pela força — e que, além disso, é uma força criminosa — só responde à força.

Durante o confinamento, o senhor conseguiu manter contato com María Corina e com as lideranças do movimento? Como era possível coordenar decisões políticas em um contexto de isolamento quase total?
Sim, tivemos contato com María Corina. Ela chegou a nos visitar algumas vezes. Também com Edmundo González Urrutia houve comunicação permanente.
Apesar das dificuldades, conseguimos coordenar decisões políticas com clareza sobre o que precisava ser feito. Enquanto tínhamos conexão, trabalhávamos intensamente como equipe — tanto dentro quanto fora da embaixada. Isso nos permitiu conduzir a campanha e tomar decisões estratégicas mesmo a partir daquele confinamento, apesar da vigilância e supervisão impostas pelo regime.
Por exemplo, coube a mim organizar parte da logística para que observadores internacionais pudessem acompanhar a eleição, e boa parte do trabalho eleitoral e da defesa do voto foi feita dali. Essa atitude — de trabalhar, articular e coordenar mesmo sob vigilância — foi essencial: entendemos que, ainda que uma embaixada tivesse se transformado em prisão, nossa tarefa continuava sendo resistir e agir. Depois de 28 de julho, as coisas se complicaram muito. A bandeira do Brasil acabou sendo hasteada ali, a situação de deterioração foi grave, mas, no fim, decidimos resistir.

A Operação Guacamaya, que permitiu o resgate dos opositores na embaixada argentina em Caracas, foi descrita como uma ação ousada e sigilosa. Como surgiu a ideia da operação e qual foi o momento mais crítico de todo o processo?

Não posso contar muitos detalhes. Foi uma oportunidade que surgiu e envolveu muitas pessoas — países, mas também gente dentro da Venezuela que continua ajudando.
Até que o país seja livre, não poderemos revelar nada, por segurança daqueles que participaram.
Foi um processo muito difícil, que exigiu descobrir a melhor forma de escapar e passar despercebidos. Fizemos tudo com tanta precisão e estratégia que o regime só percebeu no quarto dia, justamente quando o secretário de Estado Marco Rubio mencionou o tema publicamente — e nós já estávamos em solo americano.

Durante aqueles dias, deixamos de pedir comida ou gelo; ao quarto dia, perceberam nossa ausência justamente por essa falta de pedidos. Conseguimos enganá-los na própria cara, bem diante de seus olhos. Isso foi muito complexo, porque era o segundo edifício mais vigiado de toda a Venezuela — e, ainda assim, escapamos sem negociar nada.
O regime tentou vender outra versão, mas nunca pôde mostrar provas, porque elas simplesmente não existiram. Isso demonstra que esses regimes têm, sim, fraturas e fragilidades: basta identificá-las para transformá-las em oportunidade.

Por que o Foro de São Paulo e boa parte da esquerda latino-americana continuam relativizando as violações e o narcotráfico vinculados ao regime de Maduro, mesmo diante das evidências do colapso social venezuelano?

Com relação ao Foro de São Paulo e a certas figuras da esquerda na região, acredito que, em alguns casos, tem havido distanciamento e reflexão sobre o que realmente é o regime. O regime venezuelano se tornou tóxico, inclusive para parte da esquerda que um dia o defendeu e que hoje percebe que estar ao lado de um regime narcotraficante e terrorista, que comete crimes de lesa-humanidade, é um problema de reputação e de valores.
Mas há outros atores de esquerda a quem isso não importa e que seguem ignorando o sofrimento do povo venezuelano.

Estamos em um ponto em que não há meio-termo: não há meio-termo entre justiça e crime, nem entre liberdade e tirania. E quem guarda silêncio diante dos crimes do regime — ou se recusa a felicitar María Corina pelo prêmio apenas porque ela não é de sua ideologia — revela a natureza desses atores e o perigo que representam.
No fim, quem decide hoje se colocar ao lado do regime, com toda a informação disponível, já não o faz por convicção política, mas como cúmplice de uma estrutura criminosa que levou o país à ruína. E isso é um problema muito sério.

Diante da persistência do regime, o senhor considera plausível uma intervenção internacional — nos moldes da Operação Causa Justa, no Panamá — ou acredita que a queda de Maduro virá de um colapso interno e da pressão popular?

Esse é um processo liderado pelos próprios venezuelanos. O componente interno é fundamental, e por isso temos nos preparado há muito tempo. O 28 de julho — data do processo eleitoral de 2024 — foi uma mostra dessa organização, que combinou clandestinidade com mobilização cidadã: mais de um milhão de voluntários participaram na coleta de atas e na demonstração da vitória.

Essa estrutura continua evoluindo para proteger as pessoas e manter a luta por dentro.
Mas também há uma articulação externa muito importante, porque o regime narcoterrorista venezuelano já é uma ameaça à segurança do hemisfério e à segurança nacional dos Estados Unidos — além de uma ameaça existencial para os próprios venezuelanos.

A continuidade desse regime é um perigo para todos, e é necessário avançar em seu desmantelamento. Por isso, há coordenação em várias frentes: militar, policial, judicial, diplomática, internacional e financeira. Compartilham-se informações e busca-se cortar os fluxos de dinheiro do regime, provocar novas fraturas internas e acelerar sua queda.
A Venezuela já é um país invadido pelo crime e por atores extrarregionais. Libertá-la exigirá força interna e externa, porque um regime que se sustenta apenas pela força — e que, além disso, é uma força criminosa — só responde à força.

Que papel o senhor atribui a Donald Trump, Marco Rubio e Javier Milei na luta por uma Venezuela livre e democrática? Existe uma coordenação real entre esses líderes e o movimento de María Corina Machado?

São aliados importantes e fundamentais. Compreenderam a magnitude do que enfrentamos na Venezuela e entendem que não se trata apenas de um problema ideológico, mas criminal. Tanto o presidente Trump quanto o secretário Rubio e o presidente Milei têm demonstrado coerência em seu apoio e influenciado a região de maneira significativa. Sim, há comunicação e intercâmbio de informações com eles, assim como canais de coordenação voltados a um objetivo comum: a transição à democracia e à liberdade na Venezuela.

O Vente Venezuela mantém diálogo com setores da oposição brasileira ou da sociedade civil que apoiam a causa da liberdade na Venezuela? Existe hoje algum canal aberto — ainda que indireto — com o governo brasileiro?

Sim, acreditamos que no Brasil há grupos políticos importantes com os quais é necessário trocar informações e que conhecem bem a realidade venezuelana. São forças vivas da sociedade brasileira, e mantemos interação permanente com elas.
Fazemos denúncias constantes, porque esse regime não apenas comete terrorismo de Estado e crimes de lesa-humanidade, mas também pratica uma “diplomacia de reféns”, mantendo cerca de cem estrangeiros sequestrados em território venezuelano.
Por isso, é um problema regional que nos obriga a interagir com múltiplos atores. No Brasil, fazemos isso principalmente no nível das forças políticas.

Que mensagem o senhor deixaria aos brasileiros que acreditam na liberdade e na democracia, rejeitam o socialismo e acompanham de perto a luta do povo venezuelano?

Enquanto se tiver democracia, é preciso cuidar dela e fortalecê-la — mas também reconhecer suas fragilidades para melhorá-la. Hoje, a região vive uma dinâmica perversa de autoritarismos criminosos, como Cuba, Venezuela e Nicarágua: uma combinação do pior das ditaduras com o pior do crime.

Às vezes damos a democracia como garantida e achamos que não é preciso revisá-la — mas revisar não é questionar; é fortalecê-la para enfrentar esses desafios.
Na medida em que os brasileiros cuidem de sua democracia e a tornem mais forte, estarão também cuidando de si mesmos. Se a pessoa não se mete com a política, a política se mete com ela. E participar não significa necessariamente militar em um partido: pode significar fazer ativismo, ou simplesmente usar a própria voz.
Ainda há tempo. E é fundamental entender, pelos terríveis exemplos que vivemos, que o socialismo não funciona — só funciona como um saque bem-sucedido de governantes que roubam tudo. Portanto, não repitam ideias fracassadas: apostem nas ideias que realmente funcionam — as da liberdade.

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